"Os danos políticos da subserviência
Não se pode negar que boa parte dos políticos até que se esforça para fazer jus à sua representação pública, aos altos salários e a profusão de benesses a que têm direito, através da transferência de benefícios para os municípios onde são eleitos. Muitos políticos têm dignidade, alguns até servem de exemplo. Aqueles que fazem da vida pública o espelho do seu próprio caráter. Já outros, nem tanto. Infelizmente, vivemos num país onde também boa parte dos políticos só faz ensinar as maestrias do errado, da ilegalidade, contra essa ciência bonita, necessária à sociedade, que é a Política.
Vem da banda podre de uma parcela de políticos a invenção do nepotismo, a troca de favores, o jogo de interesses, o aliciamento da consciência, a lei de Gerson, o aviltamento da ética, a demagogia, a corrupção e a impunidade. São esses políticos os que ainda mantêm o voto obrigatório, que “aceitam” o voto dos eleitores analfabetos (34 milhões de brasileiros) e que aprovam projetos de lei que dão a eles milhões para custeio do marketing para propagar suas façanhas de Ali Babás, Robin Hoods, salvadores da pátria, heróis da decadência, carreiristas patrocinados pelos impostos dos cidadãos e oportunistas de plantão. Desde o descobrimento do Brasil estabeleceu-se, em regime progressivo o uso do poder em causa própria. E, para mantê-lo a qualquer custo, boa parte dos políticos é capaz de mudar até a Constituição Federal, além, é claro, de comprar órgãos de imprensa, jornalistas irresponsáveis, empresários, líderes comunitários, fiscais, autoridades de todos os poderes constituídos e o povo. Com isso, boa parte dos políticos promove seu próprio enriquecimento ilícito, aprova tudo que for possível para beneficiá-los ao máximo, exige para si o que o povo nunca terá, faz da miséria o cofre da corrupção e se acha o máximo. Em um país onde não há lei contra a impunidade, bandidos se transformam em deuses. Se não usassem os eleitores como mercadoria, eis a questão – seriam eleitos? Na verdade, essa parcela de políticos leva a nação a se perguntar: para que serve o político?
Infelizmente, é essa parte de políticos que tira proveito da situação, que aprova leis espúrias, favorecem seus patrocinadores, se dão aumentos polpudos, negociam propinas, que até um Learjet exclusivo para agilizar seus “serviços” em função do povo. Pobre povo!
Hoje, um dos expedientes mais usados por esses políticos é a cultura da subserviência, que objetiva tornar todos os seus aliados vaquinhas de presépio, despersonalizados, pessoas sem caráter, prontas, em regime full time, a servi-los em seus caprichos, sem nem mesmo questionar o que estão fazendo ou que, por imposição do mando autoritário, deixam de fazer. No jogo da subserviência, se alguém questiona a ordem do patrão é imediatamente alijado do poder, perde o emprego, é submetido a processo jurídico e banido do paraíso da mentira.
Aristóteles já dizia que o homem é um animal político, logo, antes de ser político, ele é animal. E animal há que, por fraqueza de caráter, aluga o rabo. Por isso se diz que o subserviente vive de rabo preso. O animal subserviente brasileiro é aquele que se anula como cidadão, que se auto-desmoraliza, porque engole cobras, lagartos e sapos e nada faz para se livrar do jugo. A pessoa servil é moralmente escrava de um eu autoritário cujo mando corrompe a liberdade, a alma, o caráter, o livre arbítrio, a vontade própria. Os subservientes formam a República de Vicky – cidade francesa que traiu a França, tornando-se simpatizante do ideário nazista de Hitler. A subserviência alimenta a arrogância dos poderosos. Subserviente é o medroso (ou oportunista?) que desavergonhadamente abre mão de sua dignidade a pretexto de obter favores e benefícios. Geralmente ele é uma pessoa que por si mesmo não conseguiria fazer nada, salvo servir ao poder alheio. O subserviente é o bobo da corte que só diz amém, ainda que a reza seja para o diabo. A subserviência não permite que o servil tenha identidade. Porque ele é aquele que ri de sua própria desgraça. Ao se olhar no espelho, ele não vê a si mesmo, mas o outro que manda, desmanda, explora sua personalidade frágil de cordeirinho.
O moçambicano Mouzinho de Albuquerque faz reflexão oportuna para alertar os subservientes: Nunca seja, por sua convicção, moleque político, porque a política é para os que amam o povo, respeitando-o e ajudando-o a libertar-se da corrupção, da pobreza absoluta. Só é vencido quem desiste. É que ninguém com ideais nobres é capaz de desistir. E para haver democracia, liberdade, autonomia, participação popular e legitimidade da representação política, Mouzinho é categórico: É preciso deixar de lado o lambebotismo político. Outro pensador da subserviência, Lício Maciel, advoga ser preciso parar de alimentar “o insaciável dragão”, caso contrário, “sem destino vagaremos como mortos-vivos em pleno século XXI”, porque “ainda aparvalhados dançaremos a melodia que tocarem, cantaremos loas aos seus heróis de barro, saltitaremos ao estalar do chicote da besta, adoraremos falsos ídolos como na idade das trevas, e o pior, sem pejo, lamberemos os dedos.”
O filme Planeta dos Macacos tem uma grande lição de vida para os subservientes: num dado momento, Charleston Heston pergunta à macaca Zira, que é psicóloga: - Como é que vocês, símios, conseguiram sobreviver à destruição da Terra e à ignorância dos homens? Ela responde: - Foi porque aprendemos a dizer não."
Márcio Almeida - jornalista
http://www.jmagazine.net.br/component/content/article/102-noticiasdestaques/1888-os-danos-politicos-da-subserviencia
2010/08/21
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