Pezão e o motivo de seu apelido: ele calça 48
Foto: Ernesto Carriço / Agência O Dia
Rio - O vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, é considerado um cara bom de prosa. Difícil é arrancar dele a confirmação do que todo mundo já sabe: que ele é o pré-candidato natural à sucessão de seu chefe, o governador Sérgio Cabral (PMDB). Quando o assunto é 2014, ele foge como pode e diz que discutir isso agora é “uma maluquice”. Mas não dá ponto sem nó. Quando fala do senador petista Lindbergh Farias, que anda sonhando em ser o sucessor de Cabral com a bênção do próprio, Pezão não economiza: “Sossega, cara!”
O DIA: O senhor é o pré-candidato natural à sucessão do governador Sérgio Cabral, em 2014, certo?
PEZÃO: Não sei. Sinceramente, você fazer um planejamento desses, um programa desses com três anos de antecedência, eu acho uma maluquice. Você nem passou pela eleição municipal (de outubro), já está falando na eleição presidencial. Nós temos um ano do segundo mandato, e você já está pensando em 2014. Acho que discutir 2014 em 2012 só interessa a quem está fora do poder.
A quem, por exemplo?
Para o (ex-governador Anthony) Garotinho (PR), para o Lindbergh (Farias, do PT) — que está senador, mas já quer ser governador —, para o (senador) Marcelo Crivella (PRB), para o (ex-prefeito) Cesar Maia (DEM) — que quer ser vereador —, para todo mundo... Eu acho uma maluquice. O Sérgio (Cabral) quer muito; o (Jorge) Picciani, presidente do partido (PMDB-RJ), fala, mas eu não faço um movimento... Você não me vê falar assim: “Ah, vou agradar a esse prefeito aqui porque ele vai me apoiar em 2014... Ah, vou fazer essa obra aqui porque vai me dar voto em 2014”. Esquece. Recebo todos os prefeitos igual, atendo a todas as ligações de todos, dos 92, até da Rosinha, que me ligava quase todo dia da enchente. Eu tenho consciência de uma coisa: se eu for candidato do governo, vou poder andar de cabeça erguida nos 92 municípios porque tem obra em todos os municípios. Me relaciono bem com oposição, com situação, transito com todo mundo. Então, eu vou tranquilo para a eleição se eu tiver que ser o candidato. Agora, não vou fazer um movimento até janeiro de 2014.
Com a sua rotina de trabalho já não dá para ir fazendo campanha?
Eu tenho uma pasta de infraestrutura, eu tenho Serra para cuidar, eu tenho obra das Olimpíadas para cuidar... O Sérgio me tira de secretário de Obras, me bota coordenando toda a infraestrutura do estado... Ontem (terça-feira), estava vendo 400 e poucas escolas para reformar, hospitais para construir, PPP, metrô — Linha 3, Linha 4 —, dragagem das lagoas de Jacarepaguá, as obras de dragagem da Baixada, Minha Casa, Minha Vida... Sobra tempo para fazer política?
Pelo visto, então, o senhor já é, praticamente, o governador...
(Risos) É muita coisa para fazer... O Sérgio me delega essas tarefas e ele, você vê, me dá um gabinete daquele ali. Você já viu um governador tratar o vice dessa maneira, dar um gabinete desses do lado dele? Eu nunca vi. E o Sérgio ainda me põe aqui nessa vista maravilhosa (para o jardim do Palácio Guanabara). Eu acho que ele é de uma gentileza, de uma cordialidade comigo... Tudo o que ele me der de trabalho é pouco pela gentileza e a generosidade que ele tem comigo.
Como é a rotina de trabalho do senhor?
Trabalho umas 15, 16 horas por dia. Começo às 7h, 8h, vou até 22h, 23h. Eu gostei agora foi dessa (notícia) que e-mail vai dar hora extra. Porque o meu é direto. O Sérgio me repassa todos os e-mails que ele recebe e todos que ele responde, com cópia para mim. Agora, você imagina... E ele reclama que eu não entro na conversa. Eu falo: “Sérgio, se eu perder meu tempo nesse comentário aí, eu não trabalho, pô.” É uma loucura. Uns 200, 300 e-mails por dia.
Voltando à sucessão...
Eu vou fazer o que for melhor para o Sérgio, depois para o PMDB. O meu compromisso é com o Sérgio. Com muita tranquilidade, eu me considero no lucro. Saí de uma cidade de 15 mil votos (Piraí, onde Pezão foi prefeito), 25 mil habitantes... Chegar a vice-governador do estado com esse prestígio todo: ligo para a presidenta, converso, ela me liga. (O ex-presidente) Lula tem um carinho especial, me trata igual a um filho — a mim, ao Sérgio... O Sérgio, acho que eu sou o sexto filho dele. Isso aí você não faz plano. Acho que governador e Presidência da República é destino ou o cavalo passou ali e você tem que saber a hora de poder pular em cima.
O senhor vê Cabral como presidente da República?
Eu vejo. E acho que seria extraordinário para o País. Não agora. Nós temos um compromisso com a presidenta Dilma e com o presidente Lula. O projeto deles é o maior projeto para nós. (Depois de) Tudo o que eles ajudaram a gente, a gente seria ingrato de torcer contra o governo deles. Então, acho que não é o momento.
Ele poderia vir como candidato a vice-presidente?
Mas é o que ele fala: vai torcer contra o Michel, que é presidente do nosso partido? Se ele está com Dilma, torce pelo Michel. Vai mudar a chapa para quê? Assim, como ele não quis também comigo, não podemos querer para a Dilma tirar o vice dela. Acho que o maior projeto que a gente tem é o do Lula e o da presidenta Dilma, que é o projeto do Sérgio e o meu projeto. Aí, depois vê. Acho que ele pode ser um ministro. Tenho certeza de que ele vai ser o maior eleitor de 2014, para presidente da República e para governo do estado. Acho que ele é um grande eleitor. Vai fazer um governo que vai sair consagrado.
Há quem diga que uma possibilidade para a sucessão de Cabral é o senhor como candidato a governador e o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, como vice. O que o senhor acha disso?
Não vejo isso. O partido vai escolher. Temos 19 partidos na nossa coligação. O grande esforço que a gente tem que fazer é manter a nossa aliança. O Beltrame pode ser até candidato a governador também. Eu estou no lucro. Tem que ver o que vai ser bom em 2014.
Como o senhor vê a intenção do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) de ser candidato a governador, como ele mesmo anunciou?
Acho que é natural. O Crivella também... Foi senador, aí logo depois, (candidato) a prefeito, governador, prefeito, governador... Acho que o cara fica no Senado oito anos, aí, fica lá, não sei, quer se candidatar, às vezes para manter o nome...
Mas o Lindbergh (eleito em 2010) está há pouco tempo no Senado...
Pois é. Acho que ele tinha que sossegar. Hoje (quarta-feira), mesmo, falei com ele: “Sossega, cara, fica dando um trabalho danado para a gente... Já tenho que dar entrevista para O DIA hoje (quarta-feira) porque você deu entrevista (publicada no dia 15, em resposta à entrevista de Picciani, publicada no dia 8, com declarações que foram consideradas provocações ao PT), falou do Picciani. Aí, o Picciani vem e fala, confusão danada... Isso para 2014, cara. Sossega, você está com mandato de oito anos, cara novo, a mulher está grávida de novo...” Então, eu acho que é natural. Ele é a maior liderança hoje do PT disparado, é um cara bom de rua, tem um potencial de voto. Claro que ele tem aspirações, e é da idade dele, da juventude, ter as aspirações dele e tudo. Agora, acho que é um projeto que passa pelo Lula, pelo Sérgio e pela Dilma. Tem que ver o que vai ser importante para o projeto nacional do PT. Será que vai ser a candidatura dele a mais importante?
O senhor diria que é cedo para o senador petista pensar em se candidatar a governador?
Não, acho que ele pode pensar até como prefeito do Rio. É natural. Ele é a maior liderança do PT, o PT é dos maiores partidos nacionais. Tem que pensar em tudo.
Lindbergh diz que sonha que o nome dele seja escolhido por consenso, entre PT e PMDB, para concorrer à sucessão de Cabral. O senhor acha possível?
Acho difícil o PMDB abrir mão, entregar o governo do estado para o PT. Tem que ouvir os outros 18 partidos. A candidatura dele (Lindbergh, em 2010) deu trabalho para a gente costurar dentro do partido. Tinha o Picciani, presidente do partido... Administramos uma crise permanente dentro das candidaturas. O Sérgio só entrou na campanha faltando 20 dias para a eleição do Senado. Deu uma trabalheira danada. E ele teve a bênção, nós o levamos para um eleitorado que ele nunca sonhou ter: do interior, mais de 80 prefeitos, que foram apoiá-lo quando o Sérgio pediu.
Então, ele tem uma dívida de gratidão?
Gratidão na política? Você já viu? Eu tenho certeza de que o Sérgio tem isso com o Lula e com a Dilma, e eu tenho. Agora, você não pode cobrar isso dos outros, né? Nós temos uma grande dívida de gratidão com o Lula e com a Dilma. Se nós conseguimos nos viabilizar no primeiro mandato, foi por causa dos dois. Então, se tivemos esse sucesso, somos eternamente gratos.
Mas voltando à entrevista de Picciani a O DIA...
Adorei. É o estilo do Picciani. Gostei muito. Ontem (terça-feira), almocei com ele, eu e Sérgio. O Sérgio achou legais alguns pontos, questionando ele, criticou alguns, mas numa boa, como é o relacionamento deles. Foi tranquilo. No final (do almoço), o Sérgio falou assim: “Traz uma surpresa para o Picciani aí.” Aí, entra o Rodrigo Neves (chamado de “puxa-saco” por Picciani na entrevista). Aí, o Sérgio falou assim: “Aí, o homem da entrevista, Rodrigo.” Os dois se abraçaram, e o Picciani, que é esperto, pegou e falou assim: “O Sérgio aqui, Rodrigo, fala que você é o melhor secretário, que a melhor coisa que apareceu na vida dele foi você como secretário. Quando eu falo aquilo lá é porque eu quero que você continue secretário do Sérgio, não precisa ser candidato (a prefeito) em Niterói”. Foi extraordinário. Rodrigo riu muito. O Sérgio tem essa habilidade, de colocar os contrários sentados, como ninguém. E o Picciani tem que defender o PMDB. O PMDB tem 38 prefeitos. Ele pode falar que o PMDB vai eleger menos prefeitos? Ele tem que falar que nós vamos eleger 50, senão os 38 vão bater nele. Acho que numa certa hora vai sentar, conversar. O Eduardo fez uma costura extraordinária. A eleição do Eduardo é fundamental para a gente, Prefeitura do Rio e governo do estado juntos é muito forte.
Há uma crise entre PT e PMDB?
Não. Zero de crise. Não vai ter divisão. É muito forte essa aliança do Sérgio com o Lula e com a Dilma.
Mesmo com a decisão do presidente nacional do PT, Rui Falcão, de chamar Cabral e Paes para conversar e cobrar o apoio do PMDB a candidatos petistas em municípios fluminenses?
Isso foi porque o (presidente do PT-RJ, Jorge) Florêncio foi lá (ao escritório de Rui Falcão, em São Paulo) conversar, com o Lindbergh. O Sérgio conversando e o Eduardo conversando isso tudo se acerta. É natural que chame, que conversem, para tentar ver se acertam em outras cidades. Eu tenho o melhor relacionamento com todos os prefeitos do PT.
Para o filho do governador, Marco Antônio, concorrer a deputado, por exemplo, em 2014, Cabral teria que se desincompatibilizar. O senhor acha esta possibilidade viável?
O Sérgio não quer nem ouvir falar nisso. Foi uma das crises com o Picciani... Crise, não, é que ele reclamou. Quer que ele se forme, estude, vá ver o que quer da vida e depois pensar em política. E o Sérgio quer muito terminar os quatro anos dele.
A pacificação de favelas é considerada uma marca do governo Cabral. O eleitor percebe isso?
Não tem dúvida nenhuma. O resultado nosso (na reeleição de Cabral, em 2010) comprova isso: 68% dos votos é quase uma unanimidade. Foi uma aprovação.
Vai dar para cumprir o cronograma da pacificação até o fim deste mandato?
Acho que nós vamos chegar em 2014 com as 42 UPPs instaladas e sem donos de território dentro do Rio. E, particularmente, eu acho que o Exército, a Marinha, a Aeronáutica podem dar uma contribuição maior ainda do que já vem dando.
Como?
Estão para sair, têm data para sair. O Sérgio pediu a prorrogação até por causa da Rocinha e do Vidigal, mas no meio do ano eles saem. Acho que eles podiam continuar mais tempo, fazendo a mesma coisa (patrulhamento), não só no Rio, como no Brasil. Eles resistem. Agora, quando esse País vai entrar numa guerra, né? Acho que nunca vai entrar, vai? Acho que essa guerra é a mais importante para gente. Essa é a guerra: ter segurança para o cidadão. Eu, se fosse o Sérgio, ficava perturbando para continuar, não ia deixar sair, não.
De que outra forma o governo federal poderia ajudar no combate ao crime organizado no Rio?
Falei esses dias com o ministro (da Justiça) José Eduardo Cardozo: o Rio é uma dificuldade, é cercado de rodovias federais. E a gente viu que a Polícia Rodoviária Federal diminuiu muito o efetivo nas rodovias federais. Você quase não vê patrulhamento hoje de Polícia Rodoviária Federal nas rodovias federais. Quando a gente tem grandes eventos, você vê a quantidade de apreensões que tem nas rodovias. Entra pela Rio-Santos, pela Rio-Petrópolis, pela Rio-Teresópolis. Pela Dutra. Vê esses postos como estão, muitos deles fechados e abandonados. Acho que a Polícia Rodoviária Federal tem que fazer um concurso grande. Acho que é uma falha hoje porque a gente tem feito o combate (aos criminosos), mas e a Baía de Guanabara? A Marinha poderia ajudar. Acho que a contribuição podia ser maior — eles permanecerem mesmo, ser uma política do governo federal. Claro que tem que mudar a Constituição, não está previsto na Constituição. Que se mude a Constituição, e eles ajudem mais.
Por que as Forças Armadas demoraram a estabelecer uma parceria com o governo do estado para o combate ao crime organizado no Rio?
Sérgio cansou de pedir ao Lula falar com os ministros militares, mas eles não tinham segurança de que a gente ia fazer esse enfrentamento na política de segurança. Eles tinham tido muitas decepções. Quando eles sentiram confiança na política de segurança do Sérgio, do Beltrame; (viram) que tinha acabado a politização na área de segurança, aí, eu acho que eles acreditaram.
Qual seria o desafio do governador neste segundo mandato?
É continuar formando policiais, a gente ocupando. Tem que ter recursos para isso.
O senhor já foi ameaçado em alguma favela do Rio?
Não. O pessoal vem e fala, a área de Segurança fala, mas não registro, não. Tive agora. Implodi a CCPL e saí andando (os galpões da antiga empresa foram destruídos no início do mês). Ato meio maluco. Saí andando a pé no meio da favela da Conab para ver a obra da elevação de Manguinhos. Estava acabando o baile funk, às 8h da manhã, domingo. Foi um corre-corre danado, senti que as lideranças comunitárias ficaram nervosas porque ficaram com medo de acontecer alguma coisa comigo. Mas não vi ninguém armado, não.
Que pedido o senhor fez a Dilma durante a visita da presidenta a Angra dos Reis na quarta-feira?
Pedia recursos. Abrimos espaço fiscal, que é a possibilidade de você ir às fontes de financiamento e pegar recursos. Só que os bancos já esgotaram o limite com a gente. Não tem dinheiro. Você vai no Banco Mundial, e eles não têm mais como emprestar dinheiro para nós porque já pegamos nosso limite quase todo do Sudeste. E tem espaço. A gente tem aí hoje R$ 9 bilhões para ainda pegar de empréstimo e fazer obra. Mas precisamos ter banco para financiar. Estamos procurando. Foi um dos pedidos que a gente fez à presidenta hoje (quarta-feira): que ela abra mais o limite, que ela converse com o Banco Mundial para ampliar nosso limite, com o BID, com o BNDES, com a Caixa (Econômica Federal), com o Banco do Brasil... Que bote esses bancos mais ágeis e nos ajude. Não é querer tratamento privilegiado, mas o Rio tem um calendário diferenciado. O Rio tem Rio+20, Copa das Confederações, Copa América, Copa do Mundo, Olimpíadas. E esses eventos todos têm dia e hora para começar.
Vice-governador do Rio, Luiz Fernando de Souza levou para vida pública o apelido de infância. Pezão passou a ser conhecido assim quando jogava bola em Piraí. E o tamanho dos pés — ele calça 48 — ainda rende boas risadas.
“Eu era goleiro, e as pessoas falavam que eu agarrava com o pé. Diziam que era só eu abrir os pés que já fechava o gol”, diverte-se. “Nunca me importei com o apelido. Hoje, ninguém sabe quem é Luiz Fernando”, afirma.
Pezão conta que seu maior problema de criança e adolescência era comprar sapatos. “Tinha dificuldade quando era moleque. Eu achava o melhor sapato maior e botava no pé. Era uma tragédia. Eu estourava os meus sapatos. Nem sabia quanto calçava”, lembra Pezão, que compra calçados em São Paulo, em uma loja que recebe encomendas pela Internet. “Naquela época, achar chuteira era impossível”.
Mas nem todos os problemas de infância foram resolvidos. Em janeiro de 2011, a presidenta Dilma Rousseff encontrou Pezão na Região Serrana, a mais afetada pelas chuvas, com sapatos cobertos de lama.
“Ela perguntou ‘Pezão, você não veio de bota?’ Respondi que não tinha bota do meu tamanho . Ela disse que lá na Petrobras tinha e me deu dois pares”, disse.
Reportagem de Pâmela Oliveira e Rozane Monteiro
2012/01/22
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