2012/01/02

Chuvas no RJ

RIO - As chuvas que atingem o estado desde o fim de semana já causaram uma morte. Nesta segunda-feira, a Defesa Civil de Miguel Pereira informou que uma barreira invadiu a casa de um idoso que entrou em pânico e morreu de ataque cardíaco.No município, 50 pessoas estão desalojadas e 30 desabrigadas. O pior quadro, no entanto, é em Nova Friburgo, na Região Serrana, uma das cidades mais atingidas pelas fortes chuvas que deixaram mais de 900 mortos no ano passado. O município está em estado de alerta máximo desde a tarde de domingo por causa dos riscos de inundações, e cerca de 300 pessoas deixaram suas casas preventivamente durante a madrugada. Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, também passou para o estado de alerta máximo, de acordo com a classificação de risco do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Já Macaé e São João de Meriti, essa últma que chegou a ficar em alerta máximo, estão em estado de alerta por causa do registro de chuvas intensas nas últimas horas e da elevação do nível dos rios acima do normal.

Os municípios de Laje do Muriaé, Itaperuna, Italva e Cardoso Moreira entraram em estado de alerta, no fim da tarde desta segunda-feira. A região, localizada próxima à fronteira com Minas Gerais, é cortada por um rio que, no estado vizinho, já apresenta cheia. Segundo o secretário Sérgio Simões, que está em Nova Friburgo, há risco de inundação nas próximas horas. Carros das Defesas Civis dos municípios, que tiveram sistema de alarme instalado pelo Instituto Estadual de Ambiente (Inea), já estão percorrendo os bairros avisando da necessidade de se ficar em alerta para possíveis evacuações. O risco de inundação é maior em Laje do Muriaé.

- A cidade toda deve ser afetada. Estamos trabalhando em parceria com o prefeito local e enviamos reforço de bombeiros para a região - disse Simões.

De acordo com o secretário, dois caminhões 4x4, capazes de ultrapassar locais alagados, e 30 homens foram enviados há pouco para os municípios de Laje do Muriaé e Itaperuna.

- Parte de nosso time de coordenação também está em deslocamento para dar apoio à Laje do Muriaé - disse o secretário.

Petrópolis também está em estado de atenção. A cidade registrou no domingo sete ocorrências causadas pela chuva, nenhuma delas com feridos. A primeira aconteceu na Estrada União e Indústria, dois quilômetros após a entrada de Pedro do Rio, onde um deslizamento de terra impediu o fluxo de veículos e pedestres. A segunda ocorrência aconteceu na Servidão Jardim Aclimação, em Itaipava, onde foi registrada a queda de um muro de cinco metros, interditando totalmente a via secundária. A Companhia Municipal de Desenvolvimento de Petrópolis (Comdep) está nas duas localidades para realizar a limpeza total da via e normalizar o acesso.

No Rio, a Defesa Civil municipal informou que, entre 7h e 10h desta segunda-feira, a cidade registrou 26 ocorrências, nenhuma com gravidade. Das ocorrências, 11 foram por rachaduras, seis por infiltrações e duas ameças de queda de muro. Das 7h de domingo até às 7h desta segunda, foram apenas 10 chamados, a maioria por infiltrações e rachaduras. No início da noite, todos os pousos do Aeroporto Santos Dumont foram desviados devido ao mau tempo. O terminal ficou fechado por cerca de uma hora para pousos por causa da chuva e opera apenas com o auxílio de instrumentos nesta tarde. Durante a manhã, o aeroporto também fechou para pousos das 10h30m às 11h45m. Vinte voos foram transferidos para o Aeroporto Internacional Tom Jobim. Segundo a Infraero, dos 114 voos programados até as 16h50, foram registrados 38 voos cancelados e 60 atrasados.

Sirenes acionadas em Friburgo

Em Friburgo, os moradores ainda correm o risco de ficar sem água, já que o abastecimento foi prejudicado após as chuvas. De acordo com a concessionária Águas de Nova Friburgo, algumas estações de tratamento tiveram suas operações suspensas por conta da alta turbidez da água. No domingo, as ETAs Debossan, São Pedro da Serra, Lumiar, Curuzu, Bela Vista, Campo do Coelho e Cascatinha estavam paradas. Os bairros que podem ser afetados são: Amparo, Nova Suíça, Campo do Coelho, Cascatinha, Cônego, Braunes, Bairro Suiço, Catarcione, Parque Dom João VI, Santa Eliza, Tingly, Varginha, Bela Vista, Debossan, Ponte da Saudade, Mury, Olaria, Perissê, Cordoeira, Vale dos Pinheiros, Paissandu, Lumiar e São Pedro da Serra. Equipes da concessionária estão trabalhando para desassorear as barragens, permitindo que as estações voltem a funcionar.

Moradores do ponto mais crítico de Córrego Dantas, em Nova Friburgo, cobram mais atenção da prefeitura. A localidade que está sem energia elétrica desde as 10h desta segunda-feira, é cortada pelo córrego, que transbordou durante a madrugada. Eles dependem de uma pinguela (ponte improvisada) para chegarem às suas casas, e estão com medo de ficarem ilhados.

- Há 15 dias, a pinguela que havia sido improvisada pelos próprios moradores, foi carregada pelo rio. Ganhamos uma nova pinguela doada por uma empresa local e já tememos perdê-la novamente. O maior problema do bairro é que o córrego está assoreado. Desde a tragédia de janeiro do ano passado, a prefeitura promete dragar o rio, mas o problema não é resolvido - disse Edmo Silvestre, vice-presidente da associação de moradores de Córrego Dantas.

O prefeito em exercício, Sérgio Xavier, chegou ao bairro por volta de 16h30m para vistoriar o ponto de apoio onde as pessoas devem se abrigar. Desde domingo, apenas duas famílias se dirigiram para o local. Por ser cadeirante, o prefeito não pôde atravessar o rio pela pinguela, fazendo com que moradores cobrassem uma ponte de concreto com segurança que permita o acesso a todos, inclusive deficientes físicos e idosos.

- De forma alguma um cadeirante pode fazer essa travessia - reconheceu o prefeito. - Esse é mais um exemplo das improvisações que foram feitas na cidade pela gestão passada. Já estamos com o material para fazer uma nova ponte de alvenaria. Assim que o tempo firmar, iniciaremos as obras.

O coordenador da Defesa Civil municipal, coronel João Mori, disse que muitas das providências que a cidade necessita desde a tragédia de janeiro de 2010 ainda não foram tomadas. Segundo ele, há encostas que precisam receber obras e os rios estão assoreados.

- Para se ter uma ideia, há dois, três meses começamos a desassorear o Córrego Dantas. As fortes chuvas que atingiram a cidade há 15 dias tornaram a jogar o material retirado de volta para o rio e ainda carregou as máquinas. Ou seja, estamos enxugando gelo. Vamos ficar com o trabalho de desassorear o rio, e, a cada chuva, ele volta a ficar assoreado. A situação vai ficar assim até que as encostas sejam contidas.

O prefeito afirmou que, até o momento, apenas de 30% a 40% das intevenções necessárias foram concluídas, sem dar detalhar das obras. Ele afirmou que a prefeitura precisa de R$ 700 milhões para recuperar a cidade.

- A verba é do governo do estado, foi liberada, mas existe toda uma burocracia para se empregada em obras. Vai ser um processo demorado - avaliou.

Segundo o coordenador da Defesa Civil do município, coronel João Paulo Mori, 150 dos desalojados foram para 96 pontos de apoio montados na cidade. O prefeito em exercício de Nova Friburgo pede aos moradores da cidade que não entrem em pânico. Ele informou que o município age de forma preventiva para evitar novas tragédias. Até o momento, segundo ele, nenhuma via foi obstruída e a situação está sob controle. Em 48 horas, Friburgo registrou 100mm de chuva. A Defesa Civil municipal acionou a sirene de 15 localidades das 35 do sistema de alerta deste domingo para esta segunda-feira.

- Não podemos fazer terror para as pessoas. Todos os procedimentos de segurança estão funcionando. Nos últimos meses, fizemos alguns ensaios com as sirenes e rotas de fuga em direção a pontos de apoio. Pela reação das pessoas, vimos que os testes funcionaram - disse o prefeito.

Todos os pontos de apoio estão sendo revisitados pela prefeitura, que checa se os lugares estão abastecidos com itens necessários, como colchonetes, água e comida. Desde domingo, 150 pessoas procuraram os pontos. O secretário estadual de Defesa Civil, coronel Sérgio Simões, disse que a primeira orientação para as famílias em áreas de risco é se abrigar em casa de parentes, fora desses locais. Num segundo momento, a orientação é procurar os pontos de apoio. No próximo dia 9, de acordo com o secretário, o governo do estado irá a Nova Friburgo lançar a pedra fundamental para a construção de 2.500 casas populares na localidade de Parque das Flores. Atualmente, 2,6 mil famílias vivem de aluguel social na cidade. O município tem 58 áreas de risco, onde moram 10 mil pessoas. Dessas áreas, 24 já receberam a sirene sonora em 2011.

Cerca de 30 pessoas estão abrigadas no ponto de apoio do bairro Rui Sanglard, de Nova Friburgo, desde a madrugada desta segunda-feira. Os moradores reclamam que o alarme sonoro não tocou na comunidade. Mesmo assim, por volta de 1h deixaram suas casas porque vizinhos avisaram que os alarmes de comunidades próximas haviam tocado. Cinco adultos passaram a noite em claro, sentados num banco dentro do ponto de apoio, porque não havia colchonentes em número suficiente. Pela manhã, a Defesa Civil levou mais colchonetes para o local.

- O coração está muito apertado. Minha casa fica no alto do morro e a sirene de aleta não tocou. Fui acordada aos gritos de vizinhos e pelo choro apavorado de meus filhos. Decidi vir para o ponto de apoio - contou a faxineira Miriam Correia.

A doméstica Érica Nascimento disse que parte da escadaria de sua casa desceu com um barranco. A casa dela está interditada desde janeiro do ano passado, por conta da enxurrada da época. Como Érica não recebeu o benefício do aluguel social, decidiu permanecer na casa com três filhos pequenos.

- Ouvi o estrondo da escada cedendo e na mesma hora peguei meus filhos e vim para o ponto de apoio. Isso aconteceu por volta de 1h. Agora pela manhã, passei em casa para buscar mais roupas para as crianças e vi que as paredes estão cheias de rachaduras. Não tenho mais para onde ir - desabafou a doméstica.

Uma base de operações da Defesa Civil estadual foi montada no município para que ações preventivas sejam tomadas em decorrência das chuvas. Há agentes da Defesa Civil e 15 bombeiros militares do município, atuando com oito viaturas, dois caminhões e seis de pequeno porte, 4x4.

Outros municípios em estado de atenção

Na Baixada Fluminense, além Caxias, as chuvas deixaram em estado de atenção os municípios de São João de Meriti, Nilópolis, Mesquita, Belford Roxo e Nova Iguaçu, de acordo com a classificação de risco do Inea.

O temporal também afetou Paraíba do Sul, no Centro-Sul Fluminense, no fim de semana. Ao todo, 14 famílias ficaram desalojadas no bairro Liberdade. A Defesa Civil está em alerta máximo, e o nível do Rio Paraíba está a 2,8 metros acima do seu nível normal e a expectativa é de que ele suba mais 20 centímetros e invada outros imóveis na parte baixa da cidade. No Centro, o largo da Igreja Matriz de São Pedro e São Paulo chegou a ficar alagado. Houve queda de árvores nos bairros Brocotó e Parque Morone, onde uma casa, sem moradores, foi atingida. Na Estrada de Queima Sangue, que liga Paraíba do Sul ao distrito de Sebollas, foi registrado um deslizamento de terra. O tráfego no local está em meia pista.

Já o prefeito de Pinheiral, Antônio Carlos Leite Franco decretou estado de alerta no município, como medida o preventiva é em função das chuvas torrenciais, em especial a ocorrida nos últimos dias, a fim de evitar deslizamentos e alagamentos. Na semana passada, as chuvas causaram graves danos a patrimônios públicos municipal, em especial, ao prédio do Centro Municipal de Ensino Roberto Silveira, que teve telhas quebradas, infiltrações, dano no sistema elétrico, pintura e queda de reboco.A escola precisará de obras emergenciais para receber os alunos no início do ano letivo, em fevereiro.

Em Três Rio, no Centro-Sul Fluminense as fortes chuvas deste fim de semana causaram estragos. Segundo Defesa Civil, 35 ocorrências foram registradas no município, como deslizamentos de terra, desabamentos e inundações.Em apenas três horas, entre 17h e 20h de domingo, choveu 85 milímetros na cidade. De acordo com o órgão, ocorreram vários pontos de alagamentos, sendo que cinco deles foram mais graves e chegaram a inundar algumas casas. Foram registrados pelo menos 17 deslizamentos de terra, além de dois desabamentos de barrancos, que afetaram imóveis. Até a manhã desta segunda-feira, nenhuma área havia sido interditada.

Ainda de acordo com a Defesa Civil, os locais mais afetados foram os bairros Vila Isabel, Santa Terezinha, Pilões e Cantagalo. Equipes do órgão estão realizando o monitoramento das áreas atingidas durante todo o dia de hoje. Não houve vítimas, nem registro de desabrigados. Na BR-040 (Rio-Juiz de Fora), também em Três Rios, uma queda de barreira ocorreu por volta das 20h de domingo e interditou um trecho da rodovia na altura do Km 22, impedindo o acesso a Sapucaia pela Rodovia Lúcio Meira (BR-393).

Nas outras cidades da região, nenhuma ocorrência grave foi registrada, apesar da chuva ininterrupta que ocorre desde sábado. Em Barra Mansa, a Defesa Civil informou que nenhum chamado foi recebido, mas equipes do órgão saíram em monitoramento na manhã desta segunda. Eles vão percorrer as principais áreas de risco da cidade e também irão acompanhar o nível dos rios Paraíba do Sul e Barra Mansa. Já a Defesa Civil de Volta Redonda registrou diversas ocorrências, mas nenhuma grave. Um relatório com o balanço dos atendimentos deve ser divulgado ainda na manhã desta segunda-feira. Em Barra do Piraí, a Defesa Civil registrou apenas uma ocorrência. De acordo com o órgão, uma moradora comunicou um deslizamento de terra nas proximidades do Centro da cidade, que estaria afetando a casa dela. Equipes foram até o local na manhã desta segunda-feira, para verificar a situação e monitorar a área.

O município do Rio, de acordo com o Centro de Operações, está em estágio de atenção desde as 21h20m de sábado. Os maiores acumulados de chuva nas últimas 24h foram em Sepetiba, com 77,8mm (48% do esperado para janeiro); Santa Cruz, com 64,6 mm (39% do esperado para janeiro); Avenida Brasil/Mendanha, com 61,4mm (43% do esperado para janeiro); Anchieta, com 56,4mm (31% do esperado para janeiro); e Irajá, com 53,6mm (29% do esperado para janeiro).

O Globo

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