2014/10/09

"Possíveis consequências da união de Crivella com Garotinho"

               


A consequência eleitoral da aliança do candidato ao governo do Rio Marcelo Crivella (PRB) com o ex-governador Anthony Garotinho (PR) só poderá ser avaliada de fato nas urnas. Entretanto, enquanto 26 de outubro não vem, alguns cenários apontam, em tese, para uma vantagem a favor de Luiz Fernando Pezão (PMDB).

O candidato do PRB tem chance de atrair uma parcela daqueles que votaram no primeiro turno no ex-governador. A última pesquisa feita pelo Datafolha, na véspera da eleição, indicou que Crivella obtinha 11% no grupo acima de 10 salários mínimos, mesmo percentual de Garotinho. O baixo percentual, porém, mudava no grupo com menor renda. Garotinho chegou a registrar 26% entre aqueles de que recebiam até dois salários, percentual bem acima de Crivella: 18%. Embora não seja claro o comportamento das intenções de voto do candidato do PRB segundo a renda, há chance de Crivella se beneficiar entre os de menor renda.


No total de votos obtidos nas urnas, há dois cenários possíveis. No primeiro, com baixíssima probabilidade de acontecer, Crivella herdaria 100% dos votos de Garotinho. Na hipótese de que tenhamos um mesmo número de comparecimento de eleitores nesse segundo turno e que os eleitores de Crivella repitam a sua decisão, o candidato do PRB alcançaria algo em torno de 3,1 milhões de votos. Pezão obteve, somente no primeiro turno, 3,2 milhões, volume já superior ao estimado para o candidato do PRB nessa segunda etapa da disputa. Ou seja, os ventos estariam soprando a favor do candidato à reeleição.

Como esse primeiro cenário da transferência total é bastante difícil de acontecer, existe outra situação, que leva em conta a direção proporcional dos votos de Garotinho, Lindbergh Farias (PT) e Tarsício Motta (PSOL), segundo a penúltima pesquisa do Datafolha, que perguntou aos eleitores em quem eles pretendiam votar, caso o segundo turno fosse entre Pezão e Crivella. Com essas proporções, o candidato do PRB herdaria a maior parte dos votos dos outros candidatos. Como a soma dos votos totais desses candidatos não é expressiva, o candidato do PRB chegaria a aproximadamente 3,4 milhões de votos, contra 4,4 milhões de Pezão.

Nesse dois cenários que, vale ressaltar, dependem de como vão se comportar os eleitores que se abstiveram e aqueles que anularam ou votaram em branco no primeiro turno, há um componente que pode interferir decididamente contra Crivella: a rejeição de Garotinho. Ao longo de toda a campanha, o ex-governador liderou os percentuais de rejeição, chegando na véspera da votação ao patamar de 48%, o dobro de Pezão (20%) e muito superior ao registrado por Crivella (15%). Nesse quesito, a dúvida é: será que os eleitores do candidato do PRB rejeitavam fortemente Garotinho? Sim. Segundo Datafolha, cerca de 62% dos eleitores de Crivella rejeitavam o ex-governador. O percentual era muito próximo do registrado entre os eleitores de Pezão (67%), Lindberg (66%). Entre os eleitores de Tarcísio Motta, a rejeição de Garotinho chegou a 78%.

Crivella corre risco de perder os votos na capital e na Região Metropolitana, onde a rejeição a Garotinho era maior: 61% e 51% . Ou seja, Crivella estaria, em tese, colocando em jogo os 18% de intenção de votos que tinha na Região Metropolitana e os 20% na capital caminhando, dessa forma, para uma interiorização dos seus votos. É no interior que a rejeição de Garotinho é menor, assim como a do próprio Crivella. A questão é que a capital (40%) e a Região Metropolitana (33%) somam 73% do eleitorado fluminense.


Fábio Vasconcellos 09.10.2014 13h00m 

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