2014/09/18

TRE faz operação em igrejas evangélicas de Caxias e apreende material de candidatos

RIO— A Coordenadoria de Fiscalização do TRE, de Duque de Caxias, constatou que pelo menos cinco igrejas evangélicas estão abrindo as portas para a propaganda eleitoral de seus candidatos, seja na distribuição de santinhos durante o culto, seja pendurando placas dentro e na frente dos templos, o que é proibido pela Lei Eleitoral, por serem as igrejas locais de uso comum. Ontem, depois de passarem uma semana infiltrados nas igrejas, os fiscais cumpriram cinco mandados de busca e apreensão em cinco locais. Ao final da operação, foram apreendidos sete computadores, dez mil santinhos e diversas placas de políticos do PR, do PMDB, do Solidariedade e do PSD.

Na Igreja Internacional da Graça de Deus, na Rua Doutor Manoel Telles 220, no Centro de Caxias, os fiscais chegaram no momento do culto, que não foi interrompido durante a revista. Um banheiro para deficientes físicos funcionava como depósito de material de campanha dos filhos do missionário R. R. Soares, Filipe Soares (PR) e Marcos Soares (PR), candidatos a deputado estadual e federal, além de panfletos de Anthony Garotinho (PR), que disputa o governo do Estado do Rio. Três computadores também foram apreendidos no local. Quando o culto terminou, alguns fiéis gritaram para os “demônios” deixarem a igreja, referindo-se ao grupo da fiscalização. Frequentadora da igreja há mais de 10 anos, a dona de casa Maria Salvadora contou que, além dos santinhos distribuídos na porta da igreja, os pastores evangélicos, durante suas pregações, pediam votos aos fiéis.

— Eles falam para votar nos filhos do R. R. Soares. Os pastores dizem que eles são bons e podem nos ajudar, mas eles nem moram aqui. Eles só aparecem aqui para passear — disse a mulher, que não quis revelar em quem vai votar.

DENÚNCIAS DE FIÉIS

A fiscalização do TRE de Duque de Caxias chegou às igrejas por meio de denúncias de fiéis.

Segundo o coordenador de fiscalização de propaganda eleitoral, Wagner Rabello Júnior, os próprios membros da Igreja Internacional da Graça de Deus denunciaram que estavam sendo coagidos a fazer campanha para candidatos do Partido Republicano (PR). No interior de uma das filiais da Internacional, na Vila São Luis, havia fichas de autorização de fiéis para colocar placas dos candidatos em suas residências. Na mesma igreja, os fiscais apreenderam também um cadastro de famílias. Havia ainda cartões do candidato Marcos Soares com o endereço de sua página em redes sociais para que acompanhassem o seu trabalho como político.

Nas outras duas igrejas, o cenário era o mesmo: placas e panfletos de candidatos escondidos dentro do templo. Na Assembleia de Deus da Família, coordenada pelo pastor Edinaldo Silva, o material era do deputado estadual e candidato à reeleição Dica (PMDB) e do candidato a deputado federal Ezequiel Teixeira (SD), que também é pastor. A igreja, segundo Edinaldo, tem cerca de 12 mil fiéis, e a propaganda encontrada no local foi deixada por um deles:

— Ele disse que apanharia hoje (ontem) às 9h, mas não apareceu.
Na semana passada, O GLOBO esteve no local e flagrou as mesmas placas no interior da igreja.
 
A Igreja Mundial do Poder de Deus também foi alvo da investida do TRE. No local, os candidatos apoiados são Francisco Floriano (PR), Milton Rangel (PSD) e o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), segundo orientação do apóstolo Valdemiro Santiago, líder da igreja. Mesmo com autorização judicial, para cumprir os mandados na filial, que é coordenada pelo pastor Leonardo Caldas Machado, os fiscais tiveram que arrombar as gavetas onde o material era guardado.
A ação do TRE teve o apoio de policiais militares do 15º Batalhão, do Grupo de Apoio à Promotoria (GAP) do Ministério Público e da Polícia Rodoviária Federal.

— Os fiscais constataram irregularidades na distribuição de santinhos e a presença de placas de candidatos da igreja e deflagraram a operação com os mandados. O material apreendido irá para o MP Eleitoral para as ações cabíveis — explicou Rabello.

RESPONSÁVEIS POR TEMPLOS NÃO DÃO EXPLICAÇÕES SOBRE INFRAÇÃO

Os responsáveis pelas igrejas que pediam votos para alguns candidatos não quiseram explicar o motivo de o material de propaganda eleitoral estar no interior dos templos. O pastor da Igreja Internacional da Graça de Deus, Luiz Cláudio Andrade, chegou a dizer à fiscalização que não havia distribuição de santinhos no local, mas, depois de meia hora de busca, o material foi encontrado.

Perguntado pelo GLOBO sobre a apreensão, ele não quis comentar o caso.

O pastor Luiz Carlos Caetano, da Igreja Mundial do Poder de Deus, no Parque Lafaiete, em Duque de Caxias, também não quis falar sobre o material encontrado e chegou a criar empecilhos para o trabalho da fiscalização, que precisou arrombar as gavetas de uma mesa, onde foi apreendido um convite para um café com o deputado Francisco Floriano (PR), no dia 2 de agosto.

O político respondeu ao GLOBO que não sabia que seu material de campanha estava em igrejas e disse que pediu ao bispo estadual a suspensão do pastor responsável. Floriano afirmou que não aceita algo que vá contra a legislação eleitoral e que orientou o religioso a tirar todos os materiais de campanha que estiverem em igrejas. O outro político apoiado, Milton Rangel (PSD), não atendeu as ligações de repórteres.

Na Assembleia de Deus da Família, além do pastor Edinaldo Silva, que estava presente na hora da operação, havia duas mulheres que disseram ser advogadas, mas não quiseram responder sobre o material encontrado. O deputado Dica, apoiado no local, declarou que "não há como ter gerência sobre santinhos e panfletos. As placas de propaganda são monitoradas por colaboradores contratados para essa função específica, e, pelo que o deputado foi informado, no horário de alimentação, alguns dos colaboradores guardaram placas na igreja a que pertencem". Dica disse que vai orientar a equipe para que a situação não ocorra novamente e destacou que não é ligado oficialmente a uma única denominação.

Os candidatos Filipe e Marcos Soares, filhos do missionário R. R. Soares, não atenderam as ligações.

A assessoria de imprensa de Garotinho, que também tem seu nome nos panfletos apreendidos, afirmou que "quem tem que responder sobre esse material é a igreja".

Procurado pelo GLOBO, o candidato Ezequiel Teixeira não quis comentar o assunto. O governador do Rio e candidato à reeleição Luiz Fernando Pezão (PMDB) argumentou que "não veiculou qualquer material da campanha dele em nenhuma igreja. Caso algum candidato a deputado da coligação o tenha feito, ele desconhece e, evidentemente, não autoriza."

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