2011/01/15

Região serrana do Rio de Janeiro conta mortos em tragédia climática

Medo de saques, pânico nas ruas, apreensão, desabastecimento. A região serrana do Rio de Janeiro já contabiliza 551 mortes em uma das maiores tragédias climáticas do país. E os moradores de cinco cidades atingidas por enchentes e deslizamentos na madrugada de quarta-feira (12) convivem com incertezas e com a dor de enterrar parentes, amigos e vizinhos. As buscas continuam e novos balanços sobre vítimas fatais devem ser divulgados neste sábado.

No município de Teresópolis, a Defesa Civil estadual confirmou 238 mortos. Destes, 102 corpos foram liberados para sepultamento. Mas os sobreviventes enfrentam a desolação e a chuva para tentar identificar os cadáveres. “A gente fica muito angustiado, mas acho que vou conseguir reconhecer. A gente não deseja uma dor dessas pra ninguém”, diz Maria Porcina da Silva Ramos, que ainda tem dois familiares desaparecidos.

Em razão da demanda, que extrapola as mais pessimistas previsões, o IML (Instituto Médico Legal) da cidade teve de ser deslocado. Antes da tragédia, funcionava dentro da 110ª DP do município e tinha capacidade para apenas 14 cadáveres. Agora, está improvisado num imóvel de dois andares e 3.000 m2, antiga sede de uma igreja evangélica, em frente à delegacia.

Nova Friburgo, a cidade mais atingida, contabiliza pelo menos 248 mortos, segundo Secretaria de Estado da Saúde e da Defesa Civil. Em meio a boatos sobre saques, os moradores precisam lidar com o medo de assaltos e arrastões, boatos sobre invasões de delegacia e falsos alarmes sobre o rompimento de represas. O sistema de telefonia está em pane desde a madrugada de terça (11), mas a prefeitura criou um site para informar a população sobre os dados.

A cidade foi destruída, o comércio ainda não voltou a funcionar e, somente agora, a população começa a sair de casa para comprar mantimentos, água e tentar conseguir combustível. “O pessoal enche o tanque com medo de acabar e não sobra nem para os carros de resgate”, diz o professor de jiu-jitsu Fábio Moraes, 33. “Perdi mais de cem amigos. Alunos e amigos de infância. Está um caos.”

O número de mortos congestiona os IMLs (Instituto Médico Legal) dos municípios atingidos. Em Nova Friburgo, os sobreviventes carregam os caixões e formam um congestionamento nas ladeiras do cemitério São João Batista, único da cidade que não ficou ilhado. Os feridos enterram os mortos. Muitos deles poderão ser enterrados sem identificação.

Petrópolis, com registros de Itaipava, tem 43 mortes confirmadas. Entre os mortos estão os parentes do executivo da Icatu Holding, Erick Connolly de Carvalho, 41, que enterrou hoje no Rio dois filhos, os pais, a família da irmã, a estilista Daniella Connolly, e familiares da mulher Isabela de Carvalho, que permanece internada no Hospital Copa d'Or.

Como voltou a chover, e a previsão é de novos temporais nos próximos dias, o risco de novas enxurradas e deslizamentos preocupa as autoridades locais, que ainda trabalham para desobstruir estradas, retomar o abastecimento de água e atender os moradores que já perderam suas casas.

No município de Sumidouro, foram registradas 18 mortes, todas na localidade rural na cidade de Campinas. Uma pessoa está desaparecida e cinco estariam soterradas. A prefeitura, que havia divulgado um total de 20 mortos, corrigiu a informação no início da noite desta sexta. O prefeito da cidade afirmou que pelo menos 300 famílias estão em áreas isoladas.

Em São José do Vale do Rio Preto, a Polícia Civil confirma 4 mortes. Moradores ilhados foram resgatados com a ajuda de botes pelos bombeiros.

Dificuldades nos resgates

Ontem o governador do Rio, Sérgio Cabral, sobrevoou Teresópolis e Petrópolis e afirmou que os resgates serão feitos até de rapel. "Foi um desastre natural de proporções nunca vistas, mas agora é dizer 'não' à ocupação irregular. É um dever dos municípios e do Estado dizer não, fazer esse 'dever de casa' para impedir que mais vidas sejam perdidas", afirmou.

O Corpo de Fuzileiros Navais inaugurou um hospital de campanha em Nova Friburgo, e um hospital provisório do Corpo de Bombeiros também começou a funcionar. O único hospital público da cidade não consegue dar conta do grande número de feridos. O local deve ser visitado pelo governador neste sábado (15).

Abastecimento e buscas

Durante o final de semana, as equipes de resgate devem continuar buscando desaparecidos. Nos municípios de Teresópolis e Petrópolis as buscas foram interrompidas por causa da falta de iluminação e devido à chuva durante a madrugada, e retomados pela manhã.

A luz foi restabelecida para cerca de 91 mil pessoas. O maior problema é a água. Em Nova Friburgo, metade da população está sem abastecimento, e as cidades atingidas não conseguem reabastecer supermercados e comércios. O governo do Estado informou que cerca de 10 mil pessoas foram atingidas pela tragédia.

Do UOL Notícias*
No Rio de Janeiro e em São Paulo
Com informações de Fabiana Uchinaka, Rodrigo Bertolotto e Daniel Milazzo, enviados especiais do UOL Notícias em Nova Friburgo e Teresópolis (RJ), e Janaina Garcia e Rosanne D'Agostino, em São Paulo (SP)
c/ed.

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