MARÇO
Enquanto a chuva lava a calçada
e rega a alma,
após tanto tempo,
um filete de sol insiste em dizer que existe.
A água calma
desce e procura pequenos abrigos,
acaricia os arbustos
e segue.
No ar a modorra
na testa da senhora morena,
que conta os anos e as pessoas,
como os pingos de suor
que escorrem finos
e caem no chão.
A vida toda passa,
só não passa
a vontade contida
de ver a vida
pelo lado avesso
dos quadros, naturais,
como as marcas na terra deixadas
pelas rodas do brinquedo da criança
que mira a senhora
e mira a chuva encharcar
os pequenos sulcos
abertos na manhã
daquele março qualquer.
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