2011/08/08

Ibovespa tem um dos piores dias da história e cai 8,08%

Bolsa tem maior queda desde setembro de 2008. Analistas falam em podridão fiscal dos EUA e discutem nova ordem econômica mundial


Foi por pouco. Os negócios com ações no Brasil nesta segunda-feira atingiram um dos piores níveis de estresse da história da Bolsa.

O Ibovespa, principal índice da praça paulista, raspou no circuit breaker, um sistema acionado pela Bolsa para acalmar os investidores. Funciona assim: quando bate queda de 10%, os negócios são paralisados por 30 minutos, para que os ânimos se acalmem.

O Ibovespa chegou a cair 9,73%, cotado em 47.793 pontos. O nervosismo foi tal que provocou uma corrida ao site da Bovespa na internet, que não aguentou e caiu. No final do pregão, o índice reduziu as perdas e fechou com baixa de 8,08%, cotado em 48.668 pontos, menor patamar desde 30 de abril de 2008. A desvalorização diária foi a maior desde 29 de setembro de 2008, quando o Ibovespa perdeu 9,36%.

O último circuit breaker da Bolsa foi acionado em 22 de outubro de 2008, logo após o estouro da crise financeira, dia em que o Ibovespa fechou com queda de 10,18%. Naquele mês, a interrupção dos negócios aconteceu outras três vezes, nos dias 15, 10 e 6.

Desde 1997, o mecanismo foi acionado 14 vezes, segundo a BM&FBovespa.

Os motivos para tamanho barulho estão sendo digeridos ao longo do pregão, que começou com queda bem mais branda. Foi assim também na Europa e nos Estados Unidos, que abriram bem mais otimistas. Em Nova York, o Nasdaq despenca 5,6% e o Dow Jones cai 4,1%.

Os negócios pioraram tanto porque, nas avaliações que estão saindo do forno, há quem diga que a situação dos Estados Unidos agora é pior que em 2008, quando a crise que levou o Lehman Brothers à falência aterrorizou os mercados. Em relatório, por exemplo, o HSBC fala em podridão fiscal, bagunça orçamentária. “Agora podemos dizer com segurança que os EUA passam pela recessão mais profunda desde o período pós-guerra e, mais importante, com recuperação posterior mais rasa”, diz o banco. O PIB é muito menor do que na pré-crise, o desemprego é muito maior e, apesar do estímulo maciço via políticas monetária e fiscal, os mercados financeiros temem um duplo mergulho, continua.

Os especialistas dizem que a decisão da Standard and Poor's era amplamente esperada pelo mercado. Mas seu simbolismo está sendo considerado altamente importante, pois está servindo para levantar discussões sobre uma nova ordem econômica mundial.

O rebaixamento simboliza a redução geral da importância do Ocidente na economia global, diz o BNP Paribas em relatório desta segunda-feira. Para o banco, o corte reflete preocupações legístimas sobre a economia dos EUA, e não será bom para seu crescimento, tão necessário. Apesar disso, a casa acredita que o principal obstáculo foi superado. “Um próximo rebaixamento soberano será mais fácil.”


Também a despeito do nervosismo, a BlackRock, maior gestora global de fundos, acredita que, apesar do corte dos EUA, “a vasta maioria” dos investidores vai continuar a utilizar a curva de risco dos títulos norte-americanos (treasuries) como um padrão do mercado para julgar a qualidade do crédito global. Em relatório, a gestora diz ser importante lembrar que o Tesouro dos Estados Unidos permanece como o maior e mais líquido mercado de renda fixa do mundo, com um alto nível de transparência e poucas opções genuínas.

Como se não bastasse toda a discussão acerca do rebaixamento, a continuidade da crise da dívida europeia também estressa os investidores.

Duas decisões tomadas neste final de semana tentaram aliviar as tensões dos investidores, sem sucesso. O Banco Central Europeu (BCE) decidiu comprar títulos da Espanha e Itália, fato que chegou a fazer as bolsas desses países subirem, mas não por muito tempo. Além disso, em reunião ontem, os países do G-20, que reúne as maiores economias desenvolvidas e emergentes, garantiram que não vão mudar suas políticas de gestão de reservas. Por ser a moeda usada nas reservas mundiais, o dólar acaba negociando numa situação que parece paradoxal. Mesmo com os Estados Unidos ameaçados, os investidores seguem comprando a moeda, que sobe.

Aline Cury Zampieri, iG São Paulo

08/08/2011 09:42 - Atualizada às 17:38





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