2010/11/09

Comunicação, consumo, convivência

Aristóteles e Justin Bieber


Desde os tempos de Aristóteles (“O homem é um animal social”), o fazer da humanidade e seus relacionamentos são estudados de modo a se concluir sobre o exato por que das aproximações, rejeições, concordâncias, discordâncias e maneiras e fatos sobre os quais são construídos movimentos de massa, em diversos níveis e potências.
Um dos princípios básicos e mais lógicos está ligado diretamente à necessidade sempre premente de sobrevivência, processo em que as trocas e descobertas obviamente preenchem as necessidades que o individualismo não consegue suprir. Tratava-se, e ainda se trata, apesar de toda a complexidade que passou a envolver e orientar tais relacionamentos, de uma questão bastante intrínseca ao ser humano. A partir daí, no entanto, o leque de experiências dessa ordem foi se ampliando de tal maneira que hoje não é assim tão difícil perceber que o que se busca no outro, ou nos grupos, ultrapassa a linha concreta da luta cotidiana, e tangencia a linha imaginária do próprio “eu espelhado”, um pouco mais de cada um em seu dia-a-dia.
Dos rituais indígenas de iniciação ao cardápio de etiquetas européias, as representações e aproximações sociais em todo o mundo muitas vezes foram fortemente antagônicas, mas o alvo em geral passou a ser a busca pela aceitação, pela criação (mesmo sem a necessidade de efetiva expressão) e fortalecimento de grupos com interesses e/ou ideais comuns, ou ainda simplesmente pela necessidade e possibilidade de compartilhamento, ensino e aprendizagem.
Há dois aspectos que devem ser enfatizados – a evolução das relações comerciais e do mercado em níveis não fielmente imaginados há pouco mais de 20 anos (a internet passou de fato a fazer parte da vida dos brasileiros a partir da segunda metade da década de 90) e a revolução das próprias relações sociais, visto que o homem passou a viver nas grandes comunidades metropolitanas situações anteriormente inadmissíveis ou aceitáveis mediante a exposição da conhecida máscara da hipocrisia. Quanto a este último, muito embora parecendo paradoxal, mesmo com o afunilamento e as constantes mutações do mercado de trabalho, que geram insegurança e a constante necessidade de aprimoramento para se evitar o alijamento, o homem hoje procura buscar no próximo não só aquilo que o complementa vital e materialmente, mas detalhes, a superficialidade, o acabamento, o “ajuste fino”, a seara sem grande comprometimento, enfim, um, digamos, estilo. Seria um contraponto a essa moenda gigantesca.
Já o comércio, do alto de seu explosivo desenvolvimento, lado a lado com a evolução tecnológica e de mãos sempre dadas com o marketing, captou e visualizou as novas ansiedades, transformando-as gradativamente em um nicho “pós-moderno”, no qual o descompromisso pode ser citado com um dos principais compromissos: eu dou a você o que você acha que precisa e quer. Em se tratando de comportamento, as tendências de mercado ainda podem surgir de forma espontânea, onde se garimpam expressões dignas de nota e que poderão produzir algum resultado eficiente, com movimentos que tenham algo a dizer, mas certamente já não faltam arautos customizados dando dicas de beleza e cultura (?).
Neste sentido, e quando a indústria cultural e de relações humanas põe cada vez mais o lucro fácil à frente da evolução com educação e gosto apurado, o que chega à tona fica entre o supérfluo e o descartável. A força de convencimento e massificação do marketing e dos meios de comunicação se incumbe de propagar o “novo material”, e novas “hordas” de inocentes e semi-alfabetizados culturais acabam por seguir os “Jim Jones” dos não recicláveis. Os grupos, na verdade, são praticamente compelidos a se aproximarem, e até aqueles para os quais certos narizes eram torcidos, podem chegar ao topo da aceitação.
Como exemplo, não é à toa que milhares (milhões?) de fãs adolescentes correm atrás, literalmente ou via sites de relacionamento, do Justin Bieber, o jovem cantor canadense com cabelo à “playmobil” e que representa o que seria o pós movimento “emo” – sentimentos, relações, etc. É mais um. Apenas mais um.
Sendo inevitável esse rolo compressor de modismos e idéias, que aglutinam de modo simplesmente efêmero grupos de pessoas cuja tendência será a de dar continuidade às suas buscas, resta-nos clamar pela clareza, pela discussão frutífera, e tentar separar o joio do trigo; o que agrega o ser humano e o sentido de ficar; o que o leva ao devaneio inútil e o pensar, por fim, o boneco ventríloquo do homem que se prepara para a pós-pós-modernidade.

Luciano Aquino Azevedo

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