2010/12/24

Morre Orestes Quércia aos 72 anos

Um dos nomes mais influentes da política paulista e nacional, ex-governador enriqueceu, enfrentou processos e nunca foi condenado

Morreu hoje aos 72 anos o ex-governador Orestes Quércia, vítima de câncer na próstata, de acordo com o hospital Sírio-Libanês, na capital paulista. Ele havia tratado da doença há 10 anos, mas o tumor reincidiu, o que o levou a desistir da candidatura ao Senado. Presidente estadual do PMDB, Quércia deixa a mulher, Alaíde, e quatro filhos, além de R$ 117 milhões em patrimônio declarado ao Tribunal Superior Eleitoral, muitas suspeitas de corrupção e nenhuma condenação em última instância na Justiça.

Natural de Pedregulho, pequeno município no interior paulista, Quércia foi para Campinas estudar jornalismo, direito e administração de empresas. Na cidade, iniciou sua carreia política como líder estudantil e vereador pelo então Partido Libertador. Com 28 anos, já no MDB, foi eleito deputado estadual e, dois anos depois, prefeito de Campinas. Neste período, surgiram as primeiras denúncias de corrupção, nunca comprovadas.

Elegeu-se senador em 1974, ano em que o MDB teve uma vitória expressiva – a legenda elegeu 16 senadores e aumentou a bancada na Câmara de 87 para 160 deputados. Era o primeiro sinal de descontentamento da população com a ditadura. Em Brasília, Quércia teve uma postura crítica ao governo de Ernesto Geisel. Em depoimento dado à Justiça em 1994, Geisel disse ter informações de que Quércia negociou com o governo militar para não ser cassado sob a acusação de sonegação e enriquecimento ilícito. Ele negou o fato ao jornal Folha de S.Paulo em 2002.

Na década de 80, com o retorno do pluripartidarismo, ajudou a fundar o PMDB e, pelo partido, foi eleito vice-governador de São Paulo na chapa de Franco Montoro. Apoiou as Diretas Já e a condução de Tancredo Neves à Presidência no processo de redemocratização. Em 1986, sucedeu Montoro impulsionado pelo movimento apelidado de “quercismo”, onda de apoio por parte de eleitores fiéis a Quércia, principalmente no interior de São Paulo.

À frente do governo paulista, enfrentou uma série de acusações de enriquecimento ilícito, estelionato e importação superfaturada de equipamentos de Israel para universidades, fraude em licitação e contratação sem concurso público pelo extinto Banespa e pela Cetesb. Foi responsabilizado, ainda, pela quebra financeira do Estado por diversos setores da sociedade. Quércia, cujo mandato terminou em 1991, nunca foi condenado em última instância em nenhum processo.

As frequentes denúncias de corrupção que recaíam sobre Quércia motivaram a ruptura com lideranças do partido. Foi assim que Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas e José Serra, entre outros, fundaram em 1988 o PSDB, legenda que anos mais tarde voltaria a ser apoiada por Quércia. A exceção foi Ulysses Guimarães, que permaneceu fiel ao PMDB até sua morte, em 1992. A disputa interna na legenda, então, passou a ser contra Michel Temer, presidente nacional da sigla e vice-presidente eleito na chapa de Dilma Rousseff.

Depois de deixar o governo de São Paulo, Quércia tentou, mas nunca mais conseguiu se eleger a um cargo público. Mesmo assim, viu seu patrimônio crescer 562% entre 1998 e 2002 com suas empresas no ramo imobiliário (shoppings e fazendas) e das comunicações (rádios, jornal e emissoras de TV. Na declaração de bens publicada pelo Tribunal Superior Eleitoral em 2010, o então candidato ao Senado disse possuir R$ 117.479.196,24.

Em 2002, o então pré-candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva ganhou o apoio de Quércia e, com isso, do PMDB paulista, ao dizer que desconhecia qualquer condenação por corrupção do ex-governador. Depois de muitas brigas – perdidas – por mais espaço no governo, Quércia rompeu com o presidente Lula e passou a chefiar a ala oposicionista do PMDB em São Paulo.

Em um acordo com o PSDB nas eleições de 2008, Quércia apoiou o candidato de José Serra à prefeitura de São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab, do DEM. Com isso, pôde se candidatar ao Senado na chapa tucana nas últimas eleições, em outubro. Seus planos, porém, foram interrompidos e ele retirou sua candidatura para se dedicar ao tratamento contra o câncer.

iG São Paulo 24/12/2010 09:06

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