27/05/2023 07h14
É difícil acompanhar a política nacional e não se
espantar com o fato de que o governo do presidente Lula da Silva não completou
cinco meses, mas já está imerso em confusões que o fazem parecer precocemente
envelhecido, como se já estivesse padecendo da fadiga de material típica de fim
de mandato.
Lula parece perdido. Sabe-se que ele queria
governar o País pela terceira vez, ou não teria se submetido, a essa altura da
vida, ao desgaste de uma virulenta campanha eleitoral como foi a do ano
passado. Mas, até agora, ainda não se sabe exatamente para quê. Afinal, aonde
Lula quer levar o Brasil? Qual seu plano estratégico para o País?
Desencontros são naturais no início de
qualquer governo. No entanto, não há explicação razoável para tantas crises
políticas, em tão pouco tempo, a não ser a desorientação do presidente da
República. Mais especificamente, a falta de um programa de governo consistente
e de uma política de comunicação que sejam capazes de unir a sociedade em torno
de objetivos comuns, malgrado todas as divergências políticas que possa haver entre
os cidadãos, como as há em qualquer democracia saudável.
Enquanto as reais intenções de Lula não
forem conhecidas, é lícita a inferência de que o presidente só está se movendo
por seus caprichos e por sua pulsão pela desforra. É nítida a intenção do petista
de demolir tudo o que foi feito de bom no País enquanto o PT esteve fora do
poder, em particular o Marco Legal do Saneamento, a Lei das Estatais, a
autonomia do Banco Central (BC), as reformas do Ensino Médio e a trabalhista e
a capitalização da Eletrobras, entre outras medidas.
Lula pode vir a público e afirmar, como o
fez há poucos dias, que “não voltaria à Presidência para ser menor” do que foi
em seus mandatos anteriores. Porém, até o momento, isso é exatamente o que se
descortina. Lula também pode fazer afagos públicos nas ministras do Meio
Ambiente, Marina Silva, e dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, mas nada
compensará o fato de que, em nome de uma certa governabilidade, permitiu que o
Centrão desfigurasse esses Ministérios que, bem ou mal, serviam para ser a cara
do governo petista. Como bem disse o próprio Lula depois da humilhação de suas
ministras, “tudo parece normal”.
Em um Congresso infenso às pretensões do
presidente, Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) brotam por todos os
lados, em número sem precedentes para uma legislatura que mal começou. O que é
isso senão o retrato de um governo fraco, como já destacamos nesta página?
Enquanto claudica na articulação para
formar uma base de apoio no Legislativo consistente o bastante para aprovar
projetos realmente importantes para o Brasil, Lula se perde entre questões
distantes das prioridades do País, como a guerra na Ucrânia, sua rixa pessoal
contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, suas agressões aos
empresários do agronegócio, sobretudo os paulistas, e os endossos aos
arruaceiros do MST. Enquanto o mundo já discute como serão as cidades do
futuro, Lula dobra a aposta no transporte individual por meio de carros baratos
movidos a combustíveis fósseis.
O que haveria de ser pior para o Brasil do
que ser governado por um presidente desorientado, alguém que, ao invés de
servir à Nação como fonte de estabilidade, funciona como vetor de crises
perfeitamente evitáveis?
O País teve a infelicidade de ser governado
por um desqualificado como Jair Bolsonaro durante a mais grave emergência
sanitária em mais de um século. Seu despreparo e, principalmente, seu descaso
com a vida dos brasileiros fizeram de sua gestão da crise, por assim dizer, uma
tragédia dentro de outra tragédia. A razia promovida pelo ex-presidente em
praticamente todas as áreas da administração pública demandava do sucessor um
esforço de união e reconstrução sem precedentes.
Lula se apresentou como a única pessoa à
altura dessa tarefa, o líder de uma fenomenal “frente ampla” capaz de
reconectar os brasileiros com a esperança de dias melhores. Tempo há para que
esse Lula, enfim, apareça. Resta saber se era isso o que ele realmente se
propôs a fazer pelo País.
Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário