Triplica número de blogueiros detidos
Mais da metade das prisões estão na China, Índia e Irã. Muitas passam sem registro pela mídia
Juliana Anselmo da Rocha (Jornal do Brasil)
Entre 2003 e 2008, 64 blogueiros acabaram atrás das grades por postar comentários sobre a política de seus países ou infringirem normas culturais. No ano passado, o número de prisões registrou um salto, tendo triplicado se comparado aos dados de 2006. As conclusões são do Relatório Mundial de Acesso à Informação, publicado pela Universidade de Washington, nos Estados Unidos.
– Blogs têm emergido como uma nova forma de ativismo social, especialmente em regimes autoritários, que restringem o espaço para as negociações políticas – observa o autor do estudo e professor assistente do departamento de comunicação da Universidade de Washington, Philip Howard. – Para jornalistas, os blogs são uma ferramenta útil para postagem de artigos online rapidamente. Para cidadãos, são um novo fórum para conversas políticas, onde podem se manter anônimos.
Howard nota que "o número real de prisões é provavelmente superior a 64, já que muitas dessas detenções acontecem na China, Zimbábue e Irã, e passam sem registro pela mídia internacional". Ela ainda atesta que o aumento do número de prisões prova que "as pessoas têm lido blogs em uma escala cada vez maior, o que preocupa as elites sociais e as obriga a tomar os posts online como uma forma séria de ativismo político".
Mais da metade das prisões ocorreram na China, na Índia e no Irã. Mas ainda foram encontrados casos na França, em 2004, nos Estados Unidos, no ano passado, e no Reino Unido, este ano. Casos na América Latina ou no Brasil não foram reportados.
– Eu diria que as prisões são mais esperadas em democracias emergentes durante períodos de eleição, transição política ou insegurança militar. Então se quisermos fazer uma previsão quanto ao número de prisões no próximo ano, suspeito que os países onde serão realizadas eleições sejam aqueles para os quais devemos atentar – completa Howard.
O relatório prevê um crescimento já em 2008, com a chance de superação das 36 prisões vistas em 2007, devido à popularidade da ferramenta como meio de protesto e dos maiores esforços para restringir ações na internet e eleições na China, Paquistão, Irã e nos Estados Unidos.
Há casos nos quais os blogueiros ficaram presos por até oito anos. Segundo o pesquisador da Universidade de Washington "a maioria fica livre em um ou dois dias, salvo no Oriente Médio, onde os períodos de detenção são extensos". Em contrapartida, o tempo médio de prisão para jornalistas chega a 15 meses.
No Oriente, acabam presos aqueles que expõem a corrupção nos gabinetes governamentais ou o abuso de direitos humanos, bem como os que escrevem sobre cenário político e políticas públicas. Fotos e estatísticas de protestos sociais ou análises de obras de arte de cunho político também são tópicos sensíveis. Já em países como os EUA e o Reino Unido, as acusações se devem mais à postagem online de pornografia ou de material de incitação ao ódio racial.
Casos notáveis são o do iraniano Mojtaba Saminejad, preso em 2005 por postar comentários sobre a prisão de outros blogueiros. E o de Charles Leblanc que, apesar de viver no Canadá, uma democracia madura, terminou preso por fotografar e postar em seu blog um protesto político.
– Mais crítico é que, com essas prisões, os regimes podem tanto desencorajar jornalistas profissionais a postarem suas histórias na internet como espalharem o medo entre os cidadãos comuns sobre o que podem fazer online – avalia Howard.
2008/06/23
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