Depois reclamam quando zombam e dizem que Campos é a “cidade
do já teve”.
Espero, com toda a sinceridade, estar errado, e com alegria
registraria isso no futuro, mas acho que essa transação imobiliária na qual se
envolveu o Americano vai ser o início do fim do clube, ou o carimbo de sua
definição como equipe que não mais lutará para participar dos grandes torneios.
Entregar um estádio como o do parque Tamandaré para ganhar outro em Guarus, de
8 mil lugares? Para disputar o que? Mesmo com uma possível infraestrutura
melhor, é duvidoso garantir que no final das contas o resultado será benéfico.
Pois bem, em qualquer outra cidade, um negócio como esse
mobilizaria a opinião pública pelo menos a um grau em que haveria discussões
entre as partes interessadas mas também com a participação de entidades de
classe e o próprio poder público. Isso não especificamente por se tratar de um
clube de futebol, amor escancarado do brasileiro, mas por envolver um grande
espaço numa área nobre da cidade, que vem de uma forma selvagem crescendo
verticalmente, mesmo numa enorme planície cantada em versos e prosas.
Não sei o que será feito do antigo estádio do Americano, mas tudo indica, pela voracidade do mercado, que deverão ser erguidos prédios residenciais na área. Mas será que
ninguém pensa, dentro do que chamamos de planejamento do espaço público, o que
advirá? O trânsito ao redor, incidindo mais sobre o parque Dom Bosco, deverá
crescer significativamente, e a avenida 28 de Março, cujo tráfego beira o caos
nas horas do rush, deverá atingir níveis de impraticabilidade. Além disso, a
rede de esgotos de toda aquela área, inclusive da Pelinca, há anos vem acusando
sinais de cansaço, sem que obras de porte sejam feitas. Serão mais espigões,
numa cidade que, a cada dia, vê diminuídas suas áreas abertas, sem quaisquer
compensações.
Não quero e não posso aqui entrar na discussão sobre o que
levou o Americano à derrocada. Fala-se na “crise geral do futebol” como
querendo colocar a culpa no Sobrenatural de Almeida do mestre Nelson Rodrigues.
Mas hoje temos, entre outros exemplos, o Luverdense, o Nacional-AM e Salgueiro
nas oitavas de final da Copa do Brasil. Na minha modesta opinião, as más
administrações, por décadas, minaram o Americano, não havendo paixão que
resista aos estragos. Sempre comentei
que nunca vi sequer uma loja de artigos do clube, nem no próprio estádio que
hoje agoniza. O que mais querem?
Também não sei nem mesmo se haverá um jogo de despedida ou uma data
específica para que o velho Godofredo Cruz venha ao chão, para os últimos
flashes de recordação. Mas pelo andar
das carroças de burro que ainda infestam a zona central da cidade, como o
Trianon do futebol, não se espantem se a demolição começar a ocorrer da noite
para o dia, quando menos se esperar. Aliás, esperar mais o quê?
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