2013/08/24

(O) caso do Americano



Depois reclamam quando zombam e dizem que Campos é a “cidade do já teve”.

Espero, com toda a sinceridade, estar errado, e com alegria registraria isso no futuro, mas acho que essa transação imobiliária na qual se envolveu o Americano vai ser o início do fim do clube, ou o carimbo de sua definição como equipe que não mais lutará para participar dos grandes torneios. Entregar um estádio como o do parque Tamandaré para ganhar outro em Guarus, de 8 mil lugares? Para disputar o que? Mesmo com uma possível infraestrutura melhor, é duvidoso garantir que no final das contas o resultado será benéfico.

Pois bem, em qualquer outra cidade, um negócio como esse mobilizaria a opinião pública pelo menos a um grau em que haveria discussões entre as partes interessadas mas também com a participação de entidades de classe e o próprio poder público. Isso não especificamente por se tratar de um clube de futebol, amor escancarado do brasileiro, mas por envolver um grande espaço numa área nobre da cidade, que vem de uma forma selvagem crescendo verticalmente, mesmo numa enorme planície cantada em versos e prosas.

Não sei o que será feito do antigo estádio do Americano, mas tudo indica, pela voracidade do mercado, que deverão ser erguidos prédios residenciais na área. Mas será que ninguém pensa, dentro do que chamamos de planejamento do espaço público, o que advirá? O trânsito ao redor, incidindo mais sobre o parque Dom Bosco, deverá crescer significativamente, e a avenida 28 de Março, cujo tráfego beira o caos nas horas do rush, deverá atingir níveis de impraticabilidade. Além disso, a rede de esgotos de toda aquela área, inclusive da Pelinca, há anos vem acusando sinais de cansaço, sem que obras de porte sejam feitas. Serão mais espigões, numa cidade que, a cada dia, vê diminuídas suas áreas abertas, sem quaisquer compensações.

Não quero e não posso aqui entrar na discussão sobre o que levou o Americano à derrocada. Fala-se na “crise geral do futebol” como querendo colocar a culpa no Sobrenatural de Almeida do mestre Nelson Rodrigues. Mas hoje temos, entre outros exemplos, o Luverdense, o Nacional-AM e Salgueiro nas oitavas de final da Copa do Brasil. Na minha modesta opinião, as más administrações, por décadas, minaram o Americano, não havendo paixão que resista aos estragos.  Sempre comentei que nunca vi sequer uma loja de artigos do clube, nem no próprio estádio que hoje agoniza. O que mais querem?  

Também não sei nem mesmo se haverá um jogo de despedida ou uma data específica para que o velho Godofredo Cruz venha ao chão, para os últimos flashes de recordação.  Mas pelo andar das carroças de burro que ainda infestam a zona central da cidade, como o Trianon do futebol, não se espantem se a demolição começar a ocorrer da noite para o dia, quando menos se esperar. Aliás, esperar mais o quê?
   

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