Alguns espectadores do rodeio sentem mais dor que os bichos dentro da arena. Ou quase isso.
"É horrível ver aquilo, doi fisicamente. Mas é meu trabalho", conta
Ronaldo, 31, que é ativista em uma ONG de direitos animais e pede
anonimato por trabalhar sob disfarce.
Ele vai há cinco anos a Barretos ("o lugar que mais detesto no mundo!").
Durante a festa, zanza com uma máquina fotográfica pendurada na camisa
xadrez.
Com ela, tenta capturar provas de que animais sofrem maus tratos.
"Já vi bicho tomando choque ao ser montado, chibatada e até usando
sedenho, uma máquina de tortura."
Sedenho é um artefato de couro que
passa pelo saco escrotal do bichão e é puxado na entrada da arena, para
atiçá-lo.
Outro apetrecho na lista de tortura das ONGs é uma faixa de couro com um
sino que toca perto da cabeça do bovino quando ele se movimenta. "O
barulho deixa o animal desesperado", afirma o veterinário Alberto Noba
Júnior.
Os organizadores dizem que nenhum animal é machucado na feitura do
evento. "Acho que é interessante vir e conhecer o rodeio antes de falar.
A festa é feita com bons tratos com os animais. E, conhecendo, poderão
divulgar o que de fato acontece aqui", diz Hugo Resende Filho, d'Os
Independentes, que organizam o rodeio.
Carlos Rosolen, do PEA (Projeto Esperança Animal), diz que a ONG mandará
ao evento deste ano três fotógrafos disfarçados de cauboi.
E os retratos não serão só da fauna. "Vamos para provar que as pessoas
vão atrás do show e não do rodeio. É muito simples argumentar: enquanto
está tendo só rodeio, as arquibancadas ficam vazias."
Depois da morte de um animal na arena, em 2011, o evento sustou a prova
de bulldog, na qual o peão tem de derrubar o bezerro usando apenas suas
mãos.
No lugar dela, vieram novas categorias. 2013 será o primeiro ano em que
meninas menores de 13 anos poderão participar da prova de três tambores
-em que a competidora, montada a cavalo, deve contornar três barris
dispostos na arena, a cerca de 30 metros um do outro.
Somados, os prêmios oferecidos aos melhores competidores de todas as categorias chega a R$ 500 mil.
Mas os ativistas não tentam doutrinar peões e peoas quando estão em
campo. "A gente entende que não tem mais como resgatar o pessoal que
está lá. Quem está lá não se incomoda com a dor."
A briga entre o PEA e Os Independentes acabou na Justiça. Os
organizadores da festa entraram com processo para impedir que a entidade
associasse a festa a maus tratos.
O caso foi julgado em primeira instância na própria cidade de Barretos,
onde decidiu-se que a ONG deveria tirar de seu site imagens e
declarações contrárias ao evento. O PEA entrou com pedido de recurso, e a
questão foi parar no Supremo Tribunal Federal.
"Esperamos que justiça seja feita", disseram representantes dos dois lados.
http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2013/08/1327738-ativistas-se-disfarcam-de-cauboi-e-procuram-cenas-de-maus-tratos-a-bichos-em-rodeios.shtml
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