2014/11/02

Seca na Bacia do Rio Paraíba do Sul pode causar apagões no estado

Riscos para a população com a pior estiagem em 80 anos vão além da falta d’água

Rio - Especialistas alertam que a pior seca em 80 anos deve causar transtornos além da falta d’água no Estado do Rio: apagões de energia e aumento do número de doenças gastrointestinais também são fantasmas que assombram as próximas estações.

A estiagem que castiga a Bacia do Rio Paraíba do Sul, responsável pelo abastecimento de 14 milhões de pessoas, tende a se agravar. Mas já deixou a Represa do Funil, em Itatiaia, no Sul Fluminense, operando com 10% de sua capacidade de geração de energia — o segundo pior índice desde que entrou em atividade, em 1969.

Além do desabastecimento na maioria das 37 cidades que captam água diretamente do manancial nos estados do Rio, de São Paulo e Minas Gerais, o colapso do sistema afeta em cheio a geração de energia elétrica e pode causar surtos de doenças provocadas pelo consumo de água de poços artesianos contaminados, alternativa que virou febre, como na Baixada Fluminense e na Zona Oeste.
Em abril, relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico já havia adiantado que a bacia corre o risco de praticamente secar até o final do ano, caso não chova o suficiente, alcançando o negativo recorde de 1,8% de sua capacidade. Hoje, está na casa de 5%. David Zylbersztajn, do conselho de administração da Light e sócio-diretor da DZ Negócios com Energia, já garantiu que o sistema elétrico brasileiro não terá energia suficiente em 2015.

Na Represa do Funil, o cenário é desolador. A usina, que, com o armazenamento de até 890 milhões de metros cúbicos de água, gera 216 megawatts para a Light, revendida para 600 mil clientes, operava na sexta-feira com 10% de sua capacidade de volume útil, o segundo pior índice. Áreas que deveriam estar alagadas, deixam à mostra pedras, lixo e areia.
 
“Neste verão, há riscos reais de racionamento de água e energia e desencadeamento de epidemias de enfermidades, como hepatites, diarreia infecciosa e cólera”, ressalta o engenheiro sanitarista e assessor de Meio Ambiente do Crea-RJ, Adacto Ottoni. Ele cobra, desde 2005, o reflorestamento de 80% de áreas devastadas no entorno da Bacia do Paraíba.
 
De acordo com a meteorologista Marlene Leal, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), somente no outono de 2015, em maio, é que choverá em quantidade suficiente para suprir a falta de água no Paraíba. Hoje está prevista a chegada de uma frente fria ao Médio Paraíba, mas o volume será baixo. “As chuvas de Primavera e Verão não superarão o déficit de água nos reservatórios do Sudeste”, avalia Marlene.
Em nota, a Light explicou que ainda não há impacto no fornecimento de energia para seus 4 milhões de clientes nos 31 municípios que opera, incluindo a capital, e que, ser for necessário, acionará o Sistema Interligado Nacional para compensar desabastecimento.
A escassez de água pode ser vista ao longo do curso de água. Em Resende, Barra Mansa e Volta Redonda, o assoreamento do leito deixa à mostra bancos de areia, mato e lixo que chegam à metade do manancial, em alguns pontos. “Pesco há 56 anos aqui e nunca vi o rio num estado de calamidade tão grande”, atesta o pescador de Volta Redonda, Bertoldo Rocha, 72 anos. Ele conta que há 20 anos pescava em torno de 40 quilos por dia de peixes e hoje não passa de 4 quilos.
 

Francisco Edson Alves

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