A palavra é...
Toda forma de odiar é, a
princípio e por si própria, odiosa. Digo a princípio na medida em que muitas
vezes não nos damos conta exatamente dos pesos nos pratos da balança que utilizamos
para quantificar o desastrado resultado de uma ação externa para cada um.
Nosso alvo é muito próprio, assim
como as respostas muito específicas. Mas vamos nos dar a licença de ao menos
discutir o ódio ao que semeia o mal, muito embora semear me pareça uma palavra
tão bela que temo inseri-la na seara dos contrários.
Como exemplo, quem pode,
livrando-se de qualquer culpa, deixar de odiar a desfaçatez? Praga dos tempos
na sociedade, aquele que a utiliza não chega a ser um indivíduo, um ser
pensante ou atuante no sentido em que se raciocina a construção. Finge sempre
ser algo que não é, e não consegue fingir aquilo que é de fato. Uma lástima
como pessoa, um moribundo que não consegue seguir seus próprios passos. Mas há
um degrau ainda abaixo. Combinada com a dissimulação, a desfaçatez ganha uma
robustez desprezível, transformando seu hospedeiro num objeto que se vangloria
intimamente de aspergir angústia.
Há apenas os que mentem, os que
mentem intencionalmente para causar algum efeito negativo, e há os dissimulados.
Dê-se a um pequeno luxo no dia a dia das boas ações, e quem quiser pode odiar
os dissimulados. Certamente há perdão pronto para isso. Fabricam as pequenas
ações, agem com a desfaçatez de fazer você saber o que fizeram, a quem fizeram,
de maneira, idiota, quase sempre, de tentar demonstrar que não sabem que você
sabe, ou mesmo que são inocentes e de modos ingênuos. São pequenos, muito
pequenos os dissimulados. Perceptíveis, obviamente, mas solitários, vazios e
pobres, no mais amplo sentido que o termo possa alcançar.
Felizmente, jamais veremos hordas
de dissimulados. Não suportam a si mesmos, não agregam, não participam, não
convivem, da maneira como concebemos. Muitas vezes eficaz, seu modo de agir
está longe da originalidade, e é isso que a princípio os faz não serem
desmascarados de imediato. Surgem, inoculam as toxinas, e são seus efeitos que
aos poucos os rechaçam, até que busquem outras aldeias.
Se não quiser, não odeie os
dissimulados, ou a própria desfaçatez. Mas não se reprima, não se abata.
Lembre-se que os excluídos são eles. Abata-os com o afastamento direto, sem
meias palavras, como a piada curta e grossa em meio ao grupo que acabou de se
formar.
Lembre-se que os infelizes, na
verdade, são eles, incompetentes de raiz, e que nas rodas de cafés, nos
encontros com amigos e companheiros, na risada diária, sob sol ou chuva, o que
vale para nós é sentir o vento e o tempo, e que os olhares nos olhares são
algumas das formas mais dignas de se mostrar e tentar conhecer.
Luciano Aquino Azevedo
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