Mário Magalhães
http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2014/07/22/dupla-dunga-gilmar-e-o-nosso-7-a-1-moral/
Dois esclarecimentos:
1) ao contrário de um monte de gente,
incluindo os que viram e os que não viram o Dunga boleiro, eu o
considerava um baita jogador. Volante tanto de pegada, combativo, quanto
de recursos técnicos acima da média. Seus lançamentos eram um primor
estilístico. Pensava bem o jogo, como um técnico em campo, mais do que o
capitão que se habituou a ser;
2) a trajetória de Gilmar Rinaldi
nos tempos de goleiro e, no Flamengo, gestor de futebol não autorizam
prognósticos sombrios sobre comportamento temerário dele na condição de
coordenador de seleções, apesar do seu passado recente como empresário
de jogadores. Gilmar aparenta ser um homem de bem.
Dito isso, e
encerrada a entrevista coletiva de que os dois participaram, seguem
alguns pitacos sobre o novo técnico da seleção brasileira e o novo
coordenador de seleções da CBF.
Começando por Gilmar.
Quando
um magistrado se declara impedido de exercer sua função em determinado
processo, por se considerar suspeito, ele não se classifica como um
salafrário que decidiria com parcialidade ou interesses escusos, e não
com base na lei.
O juiz pensa que, se o réu foi seu sócio em
escritório ou colega de escola, as relações comerciais e pessoais podem
interferir subjetivamente no julgamento, por mais que o magistrado
busque aplicar com escrúpulos a legislação. Sob suspeição, passa o
processo a outro.
Gilmar dedicou-se por mais de uma década, até
dias atrás, ao trabalho como agente de jogadores. É lógico que se cria
suspeição sobre ele, no novo cargo, quando ser convocado ou não para a
equipe nacional pode representar ganhos e perdas milionárias ao jogador e
seus empresários. No mínimo, Gilmar deveria ter cumprido quarentena.
A
desconfiança não decorre do caráter de Gilmar, reitero. Mas do conflito
de interesses. O problema não se apresenta apenas a observadores e
torcedores, mas sobretudo aos jogadores.
Como sabe quem acompanhou
o cotidiano de clubes e seleções, é comum os boleiros desconfiarem de
que são favorecidos ou prejudicados em virtude não do desempenho
esportivo, mas dos vínculos do empresário de cada um com os cartolas.
Não é esse o ambiente recomendável para reconstruir a seleção.
Outra
deficiência de Gilmar é que ele exercerá uma função para a qual não
ostenta lastro profissional que ampare tamanha responsabilidade.
Ele é o homem errado no lugar errado e na hora errada.
Sobre Dunga.
A escolha de Marin e Del Nero, capi da CBF, premia a performance ruim.
O
treinador perdeu com a seleção na Copa de 2010. Depois, ficou anos
parado e só trabalhou em um clube, o Inter, no qual ganhou o que valia
menos e fracassou quando os desafios aumentaram.
Isso mesmo, de 2010 a 2014, Dunga só foi técnico num clube, no qual não sobreviveu por um ano.
O
noticiário informa que ele estava acertando contrato com a seleção
venezuelana. Seria um bom recomeço, para evoluir até encarar objetivos
mais parrudos. De certo modo, este ainda é o tamanho de Dunga como
técnico: dirigir a Venezuela.
O recado dos chefões do futebol
nacional é que ninguém precisa montar times bons, brilhar ou vencer,
como tantos treinadores brasileiros e estrangeiros fizeram nos últimos
anos. Às favas com o mérito!, parecem dizer.
O escolhido tem um currículo modestíssimo, apesar de já ter comandado a seleção em um Mundial.
Gilmar
é o nosso 7 a 1 moral no sentido de não ser “boa conduta'' nomear um
coordenador de seleções quem até anteontem tratava com jogadores no
papel de empresário.
Dunga é o 7 a 1 moral como adjetivo: o
“estado de espírito'' gerado por sua sua contratação pelo antigo
deputado da ditadura e seu iminente sucessor na CBF é o de manutenção da
cultura que, depois da goleada alemã, seria necessário mudar.
Por
mais que as palavras de Dunga e Gilmar possam sugerir inflexões, eles
representam a continuidade futebolística da seleção de 2014, ainda que
venham a conquistar resultados melhores.
Na entrevista, afora
cutucadas em Felipão e Parreira e uma ou outra frase que se presta a
títulos jornalísticos, não houve sinal de virada na seleção. O eixo
continua a pregação pelo “comprometimento'' _igualzinho a Scolari.
Pelo visto, pouco aprendemos _ou aprenderam_ com a debacle no Mineirão.
O 7 a 1 também pode ser moral.
2014/07/22
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