Níveis de radiação aumentaram em várias cidades japonesas, incluindo Tóquio; para França, situação só perde para Chernobyl
A Comissão Europeia qualificou nesta terça-feira o acidente nuclear do Japão de "apocalíptico", por considerar que as autoridades locais praticamente perderam o controle da situação na central de Fukushima, no nordeste do país.
"Alguns qualificam o que houve como apocalíptico, e esse termo não me parece absurdo", declarou o comissário europeu de Energia, Günther Oettinger, perante uma comissão do Parlamento Europeu em Bruxelas, na qual explicou a intenção da UE de realizar testes de resistência em suas usinas nucleares.
"Praticamente tudo está fora de controle", disse o comissário, que não descartou o pior nas próximas horas e dias no Japão. Segundo ele, apesar de o Japão ter tecnologia de ponta e engenheiros competentes, "falta serenidade e visão para fazer frente a uma situação dessas características".
Segundo o presidente da Autoridade Francesa de Segurança Nuclear (ASN), André-Claude Lacoste, o acidente nuclear de Fukushima alcançou um nível de gravidade maior do de Three Mile Island, em 28 de março de 1979, mas não chegou ao nível de Chernobyl, de 1986.
"Está muito claro que estamos em um nível seis, que é intermediário entre o que aconteceu na ilha Three Mile e Chernobil", disse o presidente da ASN, Andre-Claude Lacoste, em Paris nesta terça-feira.
Níveis de radiação
O governo japonês avisou nesta terça-feira que a crise da usina nuclear de Fukushima provocou vazamento de radiação que poderia afetar a saúde e recomendou aos moradores que vivem num raio de até 30 quilômetros de distância que fiquem em suas casas, desliguem os sistemas de ventilação e fechem as janelas.
A radiação em torno da usina aumentou desde sábado, quando uma falha no sistema de refrigeração forçou a liberação de vapor radioativo de forma controlada, mas os crescentes problemas nos reatores criam incertezas.
Na Província de Ibaraki, ao lado de Fukushima, em um determinado momento a radiação era de 5 microsievert (msv) por hora, 100 vezes mais que o habitual. Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), uma pessoa fica em média exposta à radiação de aproximadamente 2,4 msv por ano por fontes naturais.
Em Tóquio, a cerca de 270 quilômetros da usina, os níveis de radiação chegaram a 20 vezes mais que o habitual e foram detectadas pequenas quantidades de substâncias radioativas como césio, mas o governo metropolitano garantiu que tais índices não implicam riscos imediatos para a saúde.
Apesar dos pedidos de calma, em Tóquio era possível ver nesta terça-feira mais máscaras do que o habitual. Além disso, alguns habitantes decidiram se afastar da cidade por alguns dias até que a situação em Fukushima se torne menos alarmante.
Ao longo desta terça-feira, muitos estrangeiros pegaram o "shinkansen" - o trem bala-japonês - para se deslocar a cidades mais ao sul como Osaka, a mais de 500 quilômetros da capital, onde a ameaça de fuga de radiação soa mais distante.
Desde o início desta semana, várias delegações diplomáticas aconselharam àqueles que se sentissem temerosos e não tivessem assuntos "essenciais" em Tóquio que deixassem a cidade. Nesta terça-feira, a embaixada da Áustria decidiu transferir sua missão temporariamente a Osaka.
Enquanto as notícias sobre Fukushima são recebidas com inquietação crescente entre a comunidade estrangeira, os japoneses seguem com surpreendente tranquilidade, atentos pela televisão às instruções das autoridades locais.
O governo mantém os pedidos de calma, de racionamento de energia - o terremoto paralisou 11 usinas nucleares - e de prudência ao fazer compras nos supermercados para evitar a escassez de produtos, tal como já noticiam os meios de comunicação. "O governo japonês anunciou que há estoques suficientes. Por favor, ajam com calma e paciência", diz uma mensagem divulgada pelo Facebook na versão da rede social para o Japão.
Mais ao norte, as províncias vizinhas a Fukushima se prepararam nesta terça-feira para acolher os moradores das imediações da usina que saíram, muitos dos quais foram imediatamente ao hospital para saber dos níveis de radiação aos quais foram expostos. Em um raio de 20 quilômetros em torno da central nuclear foram retirados cerca de 200 mil.
Outras 5 mil pessoas estão distribuídas em abrigos na cidade de Kawamata, a menos de 30 quilômetros da usina, onde receberam instruções para não sair às ruas, informa a agência de notícias japonesa "Kyodo". Os funcionários dos abrigos indicavam que, mesmo se quisessem, não poderiam levar os cidadãos retirados para mais longe por problemas logísticos e pela escassez de gasolina.
iG São Paulo 15/03/2011 17:12
*AFP e EFE
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