Pelo trajeto de Aylan
O mar Egeu agora é negro como a noite.
Frio e revolto como as almas
que vagam em todo o mundo,
ante-braços curvados para trás
ante ao auxílio
que se pede
e que não se quer dar. Insones.
O tempo varreu os gritos,
levados ventania a fora
rumo a um mundo distante,
incerto.
Pouco há – parcos parentes,
nada de amigos, nada de vida.
Fica um gosto amargo
das ondas que trouxeram
para a areia
a pureza de
um sorriso fechado,
um filme inacabado,
por fim,
nossas lágrimas cerradas
no cofre da irracionalidade.
Luciano Aquino Azevedo
Para Aylan Kurdi, dois anos,
morto afogado no mar Egeu em setembro de 2015,
durante a desesperada travessia de seus pais
da Síria para a Turquia.
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