Na contramão dos bancos tradicionais, as cooperativas de crédito ampliaram suas estruturas físicas e alcançaram as maiores instituições financeiras em número de agências. O principal objetivo com a expansão é aumentar a capilaridade do modelo e manter a proximidade com o cliente.
Os maiores bancos do país, em
contrapartida, apostaram na ampliação do atendimento digital e fecharam
agências, movimento que já vinha ocorrendo nos últimos anos, mas que foi
acelerado pela pandemia de Covid-19.
Levantamento feito pela Folha com
dados do Banco Central e das cooperativas mostra que o maior sistema, o Sicoob,
tem 3.523 pontos de atendimento presencial espalhados pelo país, atrás apenas
do Banco do Brasil, com 4.161.
O Sicredi, segundo maior sistema
cooperativo, aparece em sexto lugar, com 2.033 agências, logo depois do
Santander, com 2.694.
A cooperativa de crédito é uma
instituição financeira formada pela união de pessoas para prestar serviços
financeiros aos seus associados.
A proximidade física com o
cliente faz parte da estratégia de negócio do cooperativismo. No sistema, os
associados são ao mesmo tempo donos e usuários da instituição, com participação
na gestão e com usufruto de seus produtos e serviços.
Nas cooperativas, eles têm acesso
aos principais serviços disponíveis nos bancos, como conta-corrente, aplicações
financeiras, cartão de crédito e empréstimos.
“As cooperativas precisam estar
perto dos clientes pela característica do negócio. Claro que ninguém mais quer
fazer operações simples na agência; reforçamos também os canais digitais. A
parte física é para aconselhamento em operações mais complexas”, afirma o
presidente do banco cooperativo Sicredi, João Tavares.
Segundo ele, a decisão de se
manter próximo do cliente foi estratégica. “As cooperativas se preocupam também
com a região atendida, são muito inseridas no cenário econômico de cada cidade,
então a estrutura física se faz necessária e é um diferencial competitivo.”
Para Tavares, a presença da agência fortalece o vínculo com o associado e facilita a captação de novos cooperados.
“Além disso, a cidade cresce
quando há uma cooperativa e temos todo interesse nisso, porque a instituição
também se fortalece. Um estudo mostrou que a presença de uma cooperativa amplia
o PIB [Produto Interno Bruto] em 5,6%”, diz.
O diretor de coordenação
sistêmica e relações institucionais do Sicoob, Ênio Meinen, afirma que a
cooperativa também auxilia na geração de empregos.
“O fechamento de agências culmina
em demissões. Quando temos uma estrutura, criamos milhares de postos de
trabalho. O que para os bancos é despesa, para nós é investimento.”
Meinen diz que a instituição
também ampliou a rede de agências pensando na proximidade com o cliente e com a
região atendida.
“As agências não ficarão ociosas
porque também mudamos o formato do atendimento. Aquela estrutura antiga, em que
o cliente pegava fila para pagar contas, ficou para trás. Oferecemos todos os
tipos de serviços digitais bancários. A diferença é que nós escutamos os
cooperados e oferecemos todos os canais”, diz o executivo.
No Sicredi, segundo Tavares, 80%
das transações são feitas pelo celular ou internet. “Parece contraditório abrir
agência com esse percentual de digitalização dos clientes, mas não é. É um modelo
que chamamos de ‘figital’, uma junção dos dois que contempla todo o mundo”,
coloca.
Meinen destaca que a estrutura
física do sistema cooperativo pode ser utilizada pelo cooperado. “Isso gera uma
sensação de pertencimento. Se o associado quiser usar a estrutura da
cooperativa para fazer uma reunião ou usar a internet do lugar, ele pode”,
conta.
O Sicoob pretende abrir outras
200 agências até o fim do ano e avançar nos grandes centros, já que tem
presença forte nas cidades do interior. O Sicredi que colocar em funcionamento
mais 250 pontos de atendimento físicos no período em regiões ainda não
assistidas pela instituição.
Para abrir uma agência, a
cooperativa procura áreas com pouco ou nenhum atendimento bancário.
Normalmente, lideranças comunitárias entram em contato com esse tipo de
instituição e solicitam a abertura de uma unidade.
Os grandes bancos, em movimento
oposto, fecharam agências nos últimos anos e reforçaram os canais digitais.
O Itaú disse, em nota, que “é
evidente a transformação tecnológica recente e a procura cada vez maior pelos
canais digitais”, mas que a rede física cumpre o papel de ser um espaço mais
humanizado e de consultoria.
O Santander afirmou, também por
escrito, que tem realizado desde 2017 “movimento estratégico que tem como um
dos pilares a expansão e interiorização de sua rede de atendimento em regiões
do Brasil ainda não atendidas. Isso inclui a abertura de unidades voltadas a
públicos específicos”.
A Caixa Econômica Federal, o
único dos maiores bancos que não fechou agências, afirmou em nota que anunciou
em fevereiro de 2021 um plano de expansão com foco nas regiões Norte e Nordeste
com a criação de 76 novas unidades, 21 especializadas no agronegócio.
O banco terá ainda 12
agências-caminhão para percorrer todo o Brasil.
A instituição disse que pretende
abrir mais 400 agências em parceria com prefeituras. Apesar dos últimos dados
do BC mostrarem que a Caixa tem 3.372 agências, o banco disse ter 4.300
unidades funcionando.
A Febraban (Federação Brasileira
de Bancos) respondeu que a decisão de abrir ou fechar um posto de atendimento é
tomada pelos bancos individualmente com base na estratégia de negócio e que as
instituições estão adequando suas estruturas à nova realidade, com a ampliação
dos canais digitais.
Bradesco e Banco do Brasil não se
manifestaram. Na semana passada, durante apresentação do balanço do primeiro
trimestre, o BB reforçou a ampliação de agências 100% digitais.
Fonte: Folha de São Paulo
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